A biodiversidade dos rios brasileiros encontra-se sob severa ameaça, em razão da fragmentação e
perda de hábitat que os barramentos representam. Até o presente, os aproveitamentos
hidrelétricos têm seu licenciamento ambiental condicionado a análises de impacto locais, sem
avaliação dos impactos cumulativos de múltiplas barragens em uma bacia hidrográfica, com
relação à conservação da diversidade da ictiofauna. Estudos anteriores para subsídio de
licenciamento de múltiplas barragens na bacia Taquari-Antas (RS) propuseram cenários
alternativos de conservação (número e posição de barragens), quando ainda não havia métricas de
conectividade dendrítica desenvolvidas. Entre os problemas identificados naqueles estudos
figuram a quantificação dos efeitos cumulativos das barreiras sobre a conectividade da bacia, o
estabelecimento de áreas prioritárias para conservação e a influência do número e da posição das
barreiras na conservação da biodiversidade aquática em uma bacia. Avaliamos a aplicação de
conectividade para mensuração de impactos cumulativos de fragmentação de bacias hidrográficas
através de índices de conectividade dendrítica recentemente propostos. Propomos um método
genérico e replicável para analisar quantitativamente os efeitos de sucessivos barramentos em
relação à conectividade dos hábitats aquáticos em processos de migração e dispersão de peixes
em bacias hidrográficas. Utilizamos simulações de cenários de múltiplos barramentos para a
avaliação. Propomos também uma sistematização para a simulação de múltiplos barramentos.
Além disso, hierarquizamos áreas para conservação por conectividade, aplicamos as novas
métricas de conectividade a estudos anteriores e demonstramos casos de cenários de alta
conectividade com outras implicações na conservação. Discutimos o amadurecimento do método
para aplicação em licenciamento ambiental e planejamento de conservação, bem como limitações
atuais e perspectivas para trabalhos futuros.