O crescimento urbano e a demanda de novas áreas residenciais têm pressionado as áreas
naturais e, consequentemente, as unidades de conservação (UC) próximas de cidades. No DF, essas
áreas protegidas estão cada vez mais isoladas, formando “ilhas de biodiversidade”, cercadas pelo
meio urbano. A pesquisa realizada se propôs a identificar e analisar os conflitos ambientais que
afetam a conservação da Reserva Biológica da Contagem (RBC), assim como os atores envolvidos e
as suas percepções sobre meio ambiente, conservação e UC. Para isso, utilizou-se de revisão
bibliográfica, observações de campo, entrevistas com roteiro semi-estruturado e questionários. Os
conflitos encontrados se relacionam com interesses econômicos e comerciais, ocupações e áreas
residenciais e visitação. Observou-se que os atores envolvidos nestes conflitos apresentam uma
visão limitada quanto aos impactos de suas próprias atividades na RBC. Esses atores têm, em geral,
pouco diálogo com o ICMBio, órgão responsável pela reserva. A dinâmica habitacional é marcada por
invasão de áreas públicas, algumas em processo de regularização fundiária. A ocupação nãoplanejada
traz ameaças à RBC, pelo aumento da população do entorno e pelo acesso e uso da
reserva para atividades diversas. Algumas pessoas cruzam regularmente trilhas da RBC para chegar
aos seus locais de trabalho. A grande maioria a utiliza para lazer - banho nas cachoeiras,
caminhadas, ciclismo e motocross. As crianças brincam, soltam pipa ou coletam frutas. Há também
coleta de plantas para preparação de medicamentos caseiros. Para analisar a visitação, foram
aplicados 148 questionários com pessoas que praticavam atividades de lazer na RBC. A maioria
mora no entorno (Sobradinho, Vila Basevi e Grande Colorado) e acessa a reserva a pé. Boa parte
não conhece o nome da reserva nem do órgão gestor, utiliza a área para banho nas cachoeiras e
gostaria de fazer uma visita com caráter educativo. A maioria tem interesse na criação de um parque
que oferecesse infra-estrutura e serviços para a visitação e aceitaria pagar um ingresso no valor de,
aproximadamente, cinco reais. Quanto aos moradores, boa parte valoriza a paisagem da RBC e teme
a sua destruição. Não há participação alguma das comunidades ou associações do entorno no
planejamento e na gestão da reserva. Os alunos da escola pública pesquisada desconhecem o nome
da UC, mas acessam a área e a usam com finalidades diversas. Não há atividades educativas
relacionadas com a RBC, mas existe o potencial para o desenvolvimento de visitas guiadas, trilhas
interpretativas e de um programa de educação ambiental com a população do entorno. Falta a
presença institucional na área, para esclarecimento da sociedade quanto ao papel e à importância da
reserva.