O atual cenário de crise ambiental tem justificado cada vez mais o estabelecimento de áreas protegidas para a conservação da natureza, das quais as Unidades de Conservação (UCs) são no Brasil uma especialização. Esse cenário concretiza-se na ampla destruição e degradação de florestas e rios, na perda da biodiversidade, em catástrofes climáticas, nas injustiças ambientais e na diminuição da qualidade de vida dos seres humanos. Ele resulta do modo hegemônico de desenvolvimento social pautado na apropriação materialista da natureza como fonte para o crescimento econômico e orientado por uma noção cientificista que inferioriza saberes não-científicos assim como valores, práticas sociais e modos de vida deles decorrentes. A legitimidade exclusiva da ciência moderna para compreender e intervir no mundo fragmenta saberes e dificulta uma compreensão crítica dos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais da problemática ambiental. A crise ambiental é, portanto, crise social, o que indica que a busca pela conservação da natureza deve ser ao mesmo tempo a busca pela emancipação social. Há que se garantir no âmbito dessa política ambiental territorial processos educadores ambientais comprometidos com uma perspectiva crítica e emancipatória. Contudo, as UCs são fruto do mesmo arcabouço conceitual que orienta o paradigma de desenvolvimento hegemônico, baseado em uma visão dicotômica sobre a relação sociedade-natureza, embora ao longo de sua consolidação tenham sido incorporadas algumas concepções de base socioambiental. As distintas concepções inerentes às categorias de UCs podem influenciar as práticas pedagógicas que delas decorrem e isso se torna relevante ao considerarmos que, por influenciarem processos sociais e territoriais, as UCs têm grande potencial educador. Diante disso, com base nos referenciais da pesquisa qualitativa, esta pesquisa objetivou discutir a configuração do contexto socioambiental de uma comunidade cabocla amazônica relacionada a uma UC para compreender os desafios pedagógicos que se colocam para essa política à luz de uma concepção crítica e emancipatória de Educação Ambiental. O estudo foi feito na comunidade Santa Maria do Caiaué, município de Maués – AM, Médio Amazonas, abrangida territorialmente pela Floresta Nacional Pau-Rosa. Partiu-se da origem Munduruku dessa comunidade para discutir a relação de sua configuração socioambiental com questões socioculturais, políticas e econômicas mais abrangentes sobre a região. A alienação quanto à origem indígena e sua desvalorização em paralelo com a necessidade de resgatar essa história, a emancipação do sistema de patronato, as iniciativas locais de organização coletiva para produção de alimentos regionais, a supervalorização de produtos alimentícios de origem industrial e a percepção da escassez de alguns recursos naturais apontam para a necessária missão da Educação Ambiental de promover a ampliação de olhares e compreensão crítica sobre a problemática socioambiental bem como de resgatar e pôr em evidência experiências locais que contribuam para tal. Se a política pública ambiental pretende que as UCs, ao protegerem extensas áreas florestais, contribuam para promover a superação da crise ambiental, não é possível pensar seu papel somente na garantia de amostras de ecossistemas. Sua gestão deve trazer à tona a diversidade social e cultural e os saberes associados que emanam de seus territórios, nos quais residem as possibilidades de construção e de fortalecimento das alternativas societárias à lógica hegemônica que opera na construção do atual cenário de crise ambiental. As UCs devem ser essencialmente pedagógicas em sua gestão e para isso os princípios da Educação Ambiental crítica e emancipatória devem entranhar todo esse processo se o objetivo é contribuir para a superação da crise ambiental ao invés de sua simples atenuação.