A variação da riqueza de espécies ao longo de gradientes altitudinais é um dos padrões
de distribuição dos organismos que a Ecologia e a Biogeografia buscam compreender.
Este trabalho analisa a variação espacial da riqueza de orquídeas ao longo de um
gradiente altitudinal de 2300 metros na Serra dos Órgãos, estado do Rio de Janeiro, e
testa duas hipóteses alternativas: a riqueza de espécies decresce com o aumento da
altitude, como previsto pelo efeito de Rapoport; ou a riqueza de espécies é maior em
altitudes intermediárias, como previsto pelo efeito de domínio médio. Registros de
ocorrência de orquídeas na área de estudo foram obtidos em herbários e
georreferenciados em escala 1:50000. A área de estudo foi divida em 23 faixas
altitudinais de 100 metros de altitude, englobando desde o nível do mar até o topo das
montanhas. A completude dos dados e a existência de vieses na amostragem foram
avaliadas. Para avaliar o efeito de Rapoport, a amplitude de distribuição altitudinal das
espécies foi comparada com seus pontos médios de altitude através de regressão. A
riqueza de espécies por faixa altitudinal foi comparada com um modelo nulo de efeito
do domínio médio, o número de localidades de coleta por faixa altitudinal, a área de
cada faixa altitudinal, a temperatura média e a precipitação média através de regressões.
Foram obtidos 642 registros de ocorrência de orquídeas, pertencentes a 213 espécies e
81 gêneros, porém apenas 135 espécies apresentaram dados suficientes para as análises
do padrão de riqueza versus altitude. As análises indicam uma insuficiência de coleta
em todas as altitudes e um viés de amostragem relacionado à acessibilidade. A relação
riqueza de espécies versus altitude apresenta um padrão em forma de corcova, com um
pico de riqueza entre 900 e 1500m de altitude, tanto para todas as 135 espécies
analisadas quanto para as 47 espécies de distribuição ampla. A distribuição altitudinal
da riqueza de espécies é influenciada pelo número de localidades de coleta, sendo as
faixas com maior número de localidades as mais ricas. A relação espécies-área não
parece estar moldando o padrão de riqueza encontrado. O efeito de domínio médio é o
fator que melhor explica a distribuição altitudinal da riqueza de espécies. Foi
confirmada a previsão da teoria de que espécies com distribuição ampla respondem
melhor ao efeito de domínio médio. O pico de riqueza de espécies em altitudes
intermediárias pode ser interpretado como o resultado do acúmulo das distribuições de
cada espécie de orquídea, dadas as restrições espaciais do domínio altitudinal. São feitas
considerações sobre a aplicabilidade dos resultados para o manejo do Parque Nacional
da Serra dos Órgãos.