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RECURSOS DE USO COMUM NOS GERAIS DO JALAPÃO: UMA ANÁLISE INSTITUCIONALISTA DO TERMO DE COMPROMISSO COM POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO INTERIOR DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2014, LÍLIAN DE CARVALHO LINDOSO, Dissertação de MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL pela FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

RECURSOS DE USO COMUM NOS GERAIS DO JALAPÃO: UMA ANÁLISE INSTITUCIONALISTA DO TERMO DE COMPROMISSO COM POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO INTERIOR DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2014, LÍLIAN DE CARVALHO LINDOSO, Dissertação de MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL pela FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS


O termo de compromisso é um instrumento do Direito, previsto com um fim

específico no Decreto 4.340/2002, que regulamenta dispositivos da lei do Sistema Nacional

de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), para normatizar provisoriamente a relação

entre populações tradicionais residentes no interior de unidades de conservação (UCs) de

proteção integral, onde não são permitidos assentamentos humanos nem o uso direto de seus

recursos naturais. Como tal, é reflexo de um dos conflitos centrais à instituição Conservação

da biodiversidade: de um lado, os defensores do mito moderno da natureza intocada

(DIEGUES, 2004) e, do outro, do princípio da co-evolução, segundo o qual “todas as culturas

humanas têm alterado os ecossistemas há milênios, enquanto a natureza exerceu

simultaneamente pressões evolutivas sobre a biologia humana e os sistemas sociais”

(COLBY, 1992, p. 145 apud VIEIRA, 2001, p. 298). Neste trabalho, pensamos o Termo de

Compromisso como caminho para a inovação institucional da Conservação da biodiversidade,

analisando-o através da recente experiência de implantação do instrumento na Estação

Ecológica Serra Geral do Tocantins (EESGT), região do Jalapão, onde junto com outras UC

constitui a maior área protegida do Cerrado brasileiro (ICMBio/JICA, 2011). O conflito posto

pela sobreposição entre as UC de proteção integral e os territórios das populações tradicionais

no Jalapão levou a que estas se mobilizassem pelo reconhecimento de seus direitos e saberes.

Assumimos que o grande eixo estruturador do conflito é o manejo tradicional do fogo para as

atividades produtivas que ao mesmo tempo cumpre um papel ecológico importante, segundo

o saber local, mas que por muitos anos foi considerado criminoso pelos órgãos ambientais.

Nesse sentido, entendemos que a identidade quilombola construída pelas comunidades

“atingidas” por UC na região passa muito mais pela identificação com os modos de viver nos

gerais, como os locais se referem às grandes extensões de terra com baixíssima densidade

demográfica e abundância de recursos naturais, do que por relatos da escravidão. Através da

teoria dos recursos de uso comum (RUC) (OSTROM, 2011), que identifica princípios de

desenho constantes nos arranjos organizacionais em torno da gestão comunitária de recursos

naturais, buscamos reconstituir estes modos de viver nos gerais antes da chegada das UC,

através do método da história de vida (PORTELLI, 2001), que consiste em resgatar a história

não oficial através dos filtros da memória. Em seguida, descrevemos a sequência de ações

coletivas (OSTROM, 2010) acionadas pelo conflito UC x populações tradicionais do Jalapão,

a qual desaguou na mobilização pelo Termo de compromisso, sendo que a EESGT foi a única

UC a efetivamente implantar o instrumento, motivo pelo qual se tornou nosso estudo de caso.

A situação das duas comunidades inseridas em seu interior serão analisadas

comparativamente, de forma a identificarmos os desafios que o Termo de compromisso

suscita, uma vez que, em uma, o instrumento foi assinado enquanto na outra, vem sendo

rejeitado. Por fim, uma análise do texto do Termo de compromisso firmado à luz dos

princípios de desenho dos RUC de longa duração nos ajuda a responder à nossa pergunta

central.

Palavras-chave: Recursos de uso comum; ação coletiva; populações tradicionais; termo de

compromisso; Conservação da biodiversidade.

Categoria: unidades_de_conservação_gestão
Ano de publicação: 2014