O município de São Luiz do Paraitinga, SP, originalmente coberto pela Floresta Atlântica
estabelecida sobre os mares de morros do Planalto Atlântico, testemunhou o uso intensivo da
terra que resultou em uma paisagem onde predominam pequenos fragmentos de floresta
secundária. Considerando práticas agrícolas orientadas pela topografia nesta paisagem,
avaliei o efeito da orientação e inclinação das vertentes na cobertura florestal e na estrutura da
vegetação. Orientadas por aspectos produtivos, as preferências de utilização tiveram efeitos
expressivos na configuração da paisagem. Enquanto as pastagens ocorreram
preferencialmente nas vertentes mais produtivas (norte/leste), a cobertura florestal
concentrou-se nas vertentes opostas e nas áreas mais declivosas, de mais difícil cultivo e
acesso. A regeneração florestal ocorreu preferencialmente nas vertentes sul e nas maiores
declividades, enquanto o desmatamento relativo foi maior nas vertentes norte/leste. Podemos
apontar na configuração da paisagem uma origem híbrida, determinada pelas preferências
(atributos culturais) e topografia (atributo natural), associados, que não poderia ser explicada
por domínios separados de natureza e cultura. A estrutura da vegetação dos fragmentos desta
paisagem está correlacionada apenas parcialmente com intervenções humanas que dependem
da topografia, podendo sofrer influência, também, de intervenções associadas a outros
elementos da paisagem, como a propriedade rural. As ações humanas, suas origens variadas e
seus efeitos sobre a vegetação podem ser mais bem compreendidos de forma contextualizada,
associados aos processos sociais em curso na paisagem. Ao incluirmos a ação humana nos
modelos de paisagem, podemos compreender melhor os processos envolvidos na produção (e
degradação) destas paisagens e ficar mais aptos a elaborar propostas de conservação
adequadas às paisagens fragmentadas.