1. Introdução A incidência e severidade dos incêndios têm aumentado nas savanas tropicais da América Latina. No Cerrado brasileiro, as políticas de combate ao fogo se justificam pelos importantes incêndios que ocorrem durante a estação seca. Em 2012, estimou-se que cerca de 24% das emissões de CO2 relacionadas ao uso do solo entre 2003 e 2005 surgiram da região do Cerrado, decorrentes predominantemente de desmatamentos e queimadas (HOFFMANN, 2013). O manejo do fogo nas áreas protegidas (AP) tornou-se um grande desafio, com mais de 50% de algumas AP afetadas por incêndios todos os anos (BEATTY, 2013). O uso do fogo por agricultores é geralmente apontados como responsáveis pelas mudanças de regime de fogo no Cerrado. Ao longo dos últimos 50 anos, as queimadas, realizadas predominamente no início de estação seca, foram substituídos por queimadas de fim de estação seca, ocasionando incêndios de grande extensão e intensidade, provocando maior mortalidade de plantas e consequências para o abastecimento de mananciais (SILVA et al. 2011). Por outro lado, no Cerrado, o paradigma do "fogo zero", está sendo questionado há muitos anos, pois há um reconhecimento crescente por parte dos ecólogos e gestores públicos que o fogo no Cerrado deve ser manejado para a conservação. O modelo de « manejo integrado do fogo », tem sido adotado em outros países com ecosistemas savanicos, como Austrália e África do Sul desde os anos 1990 (BROCKETT; BIGGS et al., 2001; RUSSELL-SMITH; LUCAS et al., 1997). No Brasil, desde 2012, a cooperação Alemã (GIZ), junto com o Ministério do Meio Ambiente, o ICMBio e a Universidade de Brasilia, são os principais precursores e financiadores do Manejo Integrado do Fogo (MIF) no Cerrado, através do projeto de cooperação “Prevenção, controle e monitoramento de queimadas irregulares e incêndios florestais no Cerrado”, também conhecido como "projeto Cerrado-Jalapão". O projeto procurar implementar um novo plano de ação de combate às queimadas, incêndios e desmatamento no bioma Cerrado. Mais especificamente, são testado o novo modelo do MIF em três unidades de conservação do Cerrado (o Parque Nacional Chapada das Menas-PNCM, o Parque Estadual do Jalapão- PEJ, e a Estação Ecologica Serra Geral do Tocantins- EESGT), em parceria com orgões ambientais brasileiros e as comunidades residentes, de modo a reintroduzir o fogo como instrumentos de gestão no inicio da estação seca, e assim evitar os incêndios devastadores do fim da estação seca, e monitorar estas experiências através de pesquisas. O Manejo Integrado do Fogo de base comunitaria (MFBC) é um tipo de manejo da terra no qual uma comunidade local residente tem envolvimento substancial na decisão dos objetivos e práticas envolvidos na prevenção, controle ou uso do fogo (Ganz et al., 2003 apud (HOFFMANN, 2013). Porém, no Brasil não foram estabelecidos ainda processos e procedimento claros para envolver as comunidades no MFBC, pois as iniciativas são inicipientes, sobretudo no Jalapão. Além disso, estas iniciativas acontecem em regiões marcadas por um histórico de politicas ambientais repressivas, que, junto com a expansão rápida do agronegócio nas margens das Unidades de Conservação, levaram muitas vezes à desqualificação dos sistemas de produção locais (ELOY; AUBERTIN et al., In press).
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