QUAL É O NOSSO PROBLEMA? O mangue
O manguezal é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico
de regiões tropicais e subtropicais e sujeitos ao regime das marés. Transita também entre águas doces e salobras,
constituindo um sistema complexo e único de condições ambientais à vida. A riqueza biológica dos ecossistemas
costeiros faz com que essas áreas sejam os grandes berçários naturais tanto para espécies características desses
ambientes, quanto para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante ao menos uma fase
do seu ciclo de vida. Os manguezais são um dos ecossistemas mais produtivos do planeta e contribuem, com
relevância mundial, para a biodiversidade, asseguram a integridade ambiental da faixa costeira e são responsáveis
pelo fornecimento dos recursos e serviços ambientais que sustentam atividades econômicas e culturais. O
papel desempenhado pelos manguezais no aumento da resiliência dos ecossistemas, comunidades e atividades
econômicas costeiras às mudanças climáticas é cada vez mais reconhecido pela comunidade científi ca.
Porém, de acordo com a FAO (Organização de Agricultura e Alimentos da ONU), a destruição dos mangues tem
sido uma constante nas últimas décadas. Apenas entre 1980 e 2005 foram degradados 35.600 km² de manguezais
no mundo. Embora não existam estimativas exatas de qual era a extensão da cobertura original dos mangues,
existe um consenso global de que essa seria superior a 200 mil km2
, e que mais de 50 mil km2
dessa área (cerca de um quarto da cobertura original) foram perdidos como resultados da intervenção humana. A degradação
das áreas de manguezais no Brasil e no mundo são sintomas de uma crise ambiental planetária historicamente
inédita, associada ao modelo de desenvolvimento predatório adotado na maior parte do mundo. Esse modelo
tem deixado um rastro de degradação ambiental, destruição de habitats e ecossistemas, exclusão social e
econômica, causando extinção de espécies e diversos confl itos socioambientais nos mais variados ambientes
terrestres. Essa situação limite faz com que programas, projetos e iniciativas de conservação ambiental sejam
elaborados e aplicados.
No Brasil encontra-se a maior faixa continua de manguezais do planeta, numa área que se estende entre a
costa do Amapá e do Maranhão com aproximadamente 9.000 km2
. Além disso, encontra-se nessa área a maior
faixa de manguezais protegidos do mundo com um total de 322.000 hectares distribuídos em 11 Unidades de
Conservação.
Apesar da importância dos manguezais para o Brasil e para a Terra, e do número de UCs de uso sustentável
em áreas de manguezal, não se tem uma ampla atuação da sociedade na conservação desse ambiente. Pelo
contrário, percebe-se uma fragilidade na participação social e na organização comunitária voltadas à gestão das
unidades de conservação e ao desenvolvimento humano das populações que residem próximo aos manguezais.
Neste contexto, a defi ciência no sistema educacional, a difi culdade que as comunidades extrativistas têm em
renovar suas lideranças e, em parte, a difi culdade em se articular politicamente em escala regional e nacional,
difi cultam a cogestão das unidades de conservação de uso sustentável.
Tendo em vista essa lacuna de participação social na gestão das unidades de conservação, em geral, e
naquelas com áreas de manguezal, em particular, e visando a melhoria da conservação dos manguezais, tornase fundamental o fortalecimento da participação social na gestão deste ecossistema. Isto se justifi ca porque os
processos participativos são inerentes à gestão pública e às UCs de uso sustentável. Nestas, a gestão participativa
é um ponto chave, principalmente em reservas extrativistas, que têm como objetivos básicos proteger os meios
de vida e a cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
Assim, o envolvimento e apropriação destes territórios, por parte da população local, é determinante para a
qualidade da implementação destas áreas. Para isto, são necessários processos de mobilização e capacitação
para instrumentalizar estas populações a atuarem de forma qualifi cada nos espaços de participação. Essa
atuação será fundamental na real manutenção do equilíbrio ambiental dos manguezais e de todos os processos
socioambientais e de base econômica envolvidos nas áreas de mangues, mantendo esses ecossistemas
equilibrados e conservados
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