APRESENTAÇÃO Os geossistemas ferruginosos podem ser considerados como um dos ambientes naturais mais singulares e importantes da superfície terrestre. Entretanto, se enquadram também na lista dos ambientes de maior importância econômica e de uso mais conflitivo. Esta afirmação se sustenta no fato de que, embora recubram pequena percentagem da superfície terrestre, são, ao mesmo tempo, ambientes de profunda importância tanto econômica, quanto natural. E estas importâncias são conflitivas: a extração do minério de ferro termina por destruir ou degradar enormemente o relevo, a paisagem, a capacidade de recarga dos aquíferos, a biodiversidade, em suma, toda a geodiversidade dos geossistemas ferruginosos. Entretanto, o fato mais preocupante é que apesar dessa enorme importância ambiental e econômica, bem como do conflito entre essas importâncias, os geossistemas ferruginosos estão entre os ambientes naturais menos estudados do mundo. Além disso, as poucas pesquisas se encontram muito mal distribuídas, pois as de cunho geológico superam em muito as de cunho ecológico, biológico, geomorfológico, ambiental e etc. Esse problema se torna ainda mais grave quando se observa a ausência de trabalhos síntese que procurem compreender os geossistemas ferruginosos em seu todo. Na verdade a última frase do parágrafo anterior deve ser revista: Não ocorre mais uma ausência de trabalhos de síntese acerca dos geossistemas ferruginosos. O livro aqui apresentado veio justamente cobrir essa lacuna. E a cobre de forma competente: são 19 excelentes capítulos escritos por 54 renomados pesquisadores que abarcam tanto os aspectos geológicos quanto, entre outros, os ecológicos, botânicos, geomorfológicos, ambientais e geoespeleológicos dos geossistemas ferruginosos. Uma obra que, sem nenhuma dúvida, se tornará referência nesse tema e impulsionará novos estudos e pesquisas. Os Geossistemas Ferruginosos agradecem pelo surgimento desse livro: Uma grave lacuna científica começa a ser preenchida! Por fim, sinto-me no dever de redigir algumas poucas palavras sobre os organizadores dessa obra: Flávio Fonseca do Carmo é formado em Biologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo mestrado e doutorado nessa mesma universidade dentro do Programa de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. Já Luciana Hiromi Yoshino Kamino é também bióloga pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas realizou, ainda nessa universidade, seu mestrado e doutorado no Programa de Biologia Vegetal. Posso afirmar também que ambos, ao longo de suas carreiras, se transformaram em competentes biogeógrafos. E a Biogeografia é um ramo do saber muito importante, mas também muito carente de bons profissionais. E foi a longa prática dessa biogeografia nos Geossistemas Ferruginosos que os fez verificar a necessidade de organizar uma obra que sintetizasse os conhecimentos científicos existentes sobre esses sistemas. E, permitam-me a opinião, fico feliz que tenha ocorrido assim, pois bons livros costumam a surgir dessa maneira, ou seja, como resultado do amadurecimento científico/prático de bons e honestos pesquisadores que, graças a esse amadurecimento, enxergam lacunas no saber que permaneciam despercebidas ou que ninguém tinha coragem de enfrentar. Em suma: Caro leitor, você está em boas mãos! E possui diante de si uma obra inédita pelo seu poder de síntese de tema tão importante e tão pouco estudado. Boa leitura! Carlos Eduardo Ferreira Pinto - Coordenador Geral das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente de Minas Gerais
PREFÁCIO A extrema importância dos geossistemas ferruginosos, em seus mais diversos aspectos, já é bastante conhecida pela ciência. Além da diversidade e singularidade florística e faunística e dos patrimônios espeleológico, paleontológico e arqueológico associados, essas formações, oriundas de processos específicos que evoluíram por bilhões de anos, prestam serviços ambientais da mais alta relevância para a sociedade, dentre os quais se destaca a produção de água de pureza única. Verifica-se, no entanto, que ainda existe desconhecimento público geral dessa importância. Tal situação, agregada aos grandes interesses econômicos de exploração das reservas de minério de ferro, explicam a ausência absoluta de uma política pública efetiva de conservação dessas formações, que encontram-se em elevado grau de ameaça. Os danos ambientais provocados pela mineração e outras atividades antrópicas aos geossistemas ferruginosos são quase sempre de natureza irreversível, sendo inviável sua reparação. Diante do quadro colocado, foi com grande satisfação que recebi o convite dos caros amigos Flávio Fonseca do Carmo e Luciana Hiromi Yoshino Kamino, organizadores da presente obra, para elaborar seu prefácio. É da mais alta hierarquia a produção e publicação de conheci mento científico qualificado e independente em prol do equilíbrio ambiental e da salvaguarda dos direitos das presentes e futuras gerações. O conhecimento profundo dos geossistemas ferruginosos remanescentes e de seus atributos únicos é instrumento indispensável à criação e integração de normas e ferramentas de proteção. É uma honra para o Ministério Público de Minas Gerais participar do lançamento da obra. Parabenizo todos os seus autores, com a certeza de que a publicação espelhará o zelo profi ssional dos seus organizadores e do Instituto Prístino e se tornará referência na efetivação da conservação. Prof. Dr. André Augusto Rodrigues Salgado - Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais - Presidente da União de Geomorfologia Brasileira
INTRODUÇÃO Geossistemas ferruginosos Os geossistemas ferruginosos caracterizam-se pela elevada geodiversidade, heterogeneidade ambiental e por uma complexa evolução de uma das mais antigas superfícies expostas do planeta, fatores estes reconhecidos por favorecerem o desenvolvimento e a manutenção da biodiversidade (Trendall & Morris, 1983; Monteiro et al., 2014; Salgado & Carmo, 2015). No Brasil, os principais geossistemas ferruginosos estão contidos em áreas estratégicas para a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais (MMA, 2008; Jacobi et al., 2015). Essas áreas estão representadas por dois dos 34 hotspots mundiais de biodiversidade (Mittermeier et al., 2004): Mata Atlântica e Cerrado; e por três das 37 regiões consideradas como “as últimas grandes áreas silvestres da Terra” (Mittermeier et al., 2002): Floresta Amazônica, Pantanal e a Caatinga (Fig. 1). As bases da teoria geossistêmica utilizou elementos da Teoria Geral dos Sistemas, proposta pelo biólogo Ludwig von Bertalanff y (1950). A Teoria geossistêmica apresenta uma metodologia interessante não apenas para a delimitação geográfi ca de certas áreas, como também é bastante adequada para diagnosticar possíveis impactos causados por ação humana. Para a elaboração deste livro, foi adotado como sistema de modelo de paisagem aquele correspondente aos elementos geográficos e sistêmicos, os quais são formados por atributos e fatores abióticos, bióticos e antrópicos (Rosolém & Archela, 2010).
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