Um legado para o futuro
Nos últimos 50 anos, a economia paranaense cresceu sobre uma base agrícola muito
forte. Boa parte da floresta do Estado foi substituída por soja, milho, feijão ou pastagens, do
que resultou muita riqueza e, ao mesmo tempo, muitos problemas ambientais.
Tal situação é conhecida de todos, mas pessoas diferentes veem com diferentes
olhos a relação custo-benefício desse processo. Para alguns, os problemas ambientais
são pequenos diante de toda a riqueza gerada. Para outros, a riqueza é pífia diante dos
problemas enormes que estamos enfrentando e dos que virão.
Quem analisa o mapa de vegetação do Paraná observa a baixa cobertura florestal
das regiões noroeste, oeste e norte e fala da desgraça representada pelo desmatamento, mas
dificilmente considera a situação de um proprietário rural de Inácio Martins, por exemplo,
onde a cobertura florestal ocupa 40, 50 ou 60% de sua área, impondo restrições de uso e
necessidades básicas a serem atendidas.
Essa variação de pontos de vista e de análises em escalas diferentes é uma realidade
na gestão da biodiversidade.
Em outras palavras: falar de desmatamento, extinção e outros temas ligados à
biodiversidade é fácil. Difícil é encontrar consenso entre visões de pessoas em diferentes
grupos de interesse e propor soluções harmônicas que levem a uma situação sustentável.
Com essa problemática em mente, a equipe do projeto Paraná Biodiversidade
procurou, incessantemente, construir conhecimento em diferentes escalas, determinando
as necessidades de conservação de fl ora e fauna do Estado, detalhando tais necessidades
dentro dos corredores Araucária, Caiuá-Ilha Grande e Iguaçu-Paraná e finalmente,
de forma participativa e integrada com as comunidades rurais, planejar microbacias e
propriedades. O projeto complementou esse trabalho com uma série de estudos que embasaram a
defi nição das políticas estaduais de gestão de fauna, controle de exóticas e prioridades de
conservação ou ações como o monitoramento participativo de fauna, estratégias técnicas
para restauração fl orestal e pagamento de serviços ambientais. Com um forte programa
de capacitação e educação ambiental, atingiu mais de 200 mil pessoas. Foram feitos
investimentos em planos de manejo e obras nas unidades de conservação.
Mais de 100 técnicos executores mobilizaram 14 mil produtores para conservar
remanescentes fl orestais, solos e água, restaurar matas ciliares e reservas legais e a
mudarem a forma como faziam agricultura. Foram construídos 69 empreendimentos
comunitários demonstrativos – com atividades da produção de açúcar orgânico a
agrossilvicultura, de cultivo e industrialização da agricultura a produção de leite e pasto,
passando pela produção de carbono – nos quais as propriedades rurais participantes
foram adequadas para cumprir a legislação ambiental, principalmente no que tange a
reserva legal e áreas de preservação permanente. A maioria dos 1600 agricultores desses
empreendimentos não se arrepende de ter reservado áreas para conservação, porque com
pouco investimento em sua agricultura, sua renda melhorou e a sua vida seguiu adiante,
melhor e mais sustentável.
Em parceria com ONGs, o Paraná Biodiversidade executou 41 projetos
conservacionistas voltados à pesquisa, educação ambiental ou proteção de remanescentes
fl orestais em bom estado de conservação.
Em resumo, o projeto realizou muito. Era um projeto demonstrativo, executado
em 10% do território paranaense, com a responsabilidade de gerar modelos de gestão da
biodiversidade e conservação de recursos naturais. Não se propôs a ser a solução para todos
os problemas ambientais do Estado. Felizmente cumpriu seu papel e deixou um legado
importante para programas e projetos futuros. Erich Gomes Schaitza - Coordenador-Geral do Paraná Biodiversidade
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