O livro vermelho da flora do Brasil – enfrentando um
desafio global e nacional
The Red Book of Brazilian Flora – Meeting a Global and National Challenge. John Donaldson; Listas vermelhas são uma ferramenta essencial para
a conservação. Fornecem informações-chave
sobre o estado de espécies ameaçadas, permitindo
que setores do governo, a iniciativa privada e a sociedade
priorizem ações em prol da conservação, e levem a
efeito planos de desenvolvimento capazes de minimizar
os impactos sobre espécies ameaçadas de extinção. Isso
é particularmente importante nas partes do mundo que
abrigam níveis excepcionais de biodiversidade, como o
Brasil, cuja flora é estimada em 41.000 espécies.
Apesar dos claros benefícios das listas vermelhas,
a elaboração de listas de plantas tem se revelado um
desafio de grandes proporções. Até 2012, apenas
14.500 espécies haviam sido incluídas na Lista Vermelha
da União Internacional para a Conservação da Natureza
(International Union for Conservation of Nature –
IUCN), o que significa que as iniciativas relacionadas à
flora têm ficado aquém das similares referentes à fauna.
Em 2010, os países que participaram da Conferência das
Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das
Nações Unidas admitiram a necessidade de concentrar
o foco na flora. Como resultado, aprovaram a Estratégia
Global para Conservação de Plantas 2011-2012 (Global
Strategy for Plant Conservation, GSPC, na sigla em
inglês) atualizada, por meio da qual todos os governos
se comprometeram a avaliar todas as espécies da flora
conhecidas até 2020. Era uma meta desafiadora, que
muitos acreditaram ser inatingível, sobretudo no caso
dos países com níveis muito altos de diversidade da
flora. Contudo, a África do Sul, por exemplo, conseguiu
avaliar sua flora por inteiro, o Equador estimou as
espécies endêmicas, e o Brasil deu um passo significativo
no sentido de preparar a lista vermelha de uma das
maiores floras em um único país. Isso demonstra que
é possível atingir as metas da GSPC, se houver pessoas
comprometidas com o objetivo e recursos adequados.
Há diversos aspectos notáveis no Livro vermelho da flora
do Brasil, com implicações nos esforços de conservação
tanto no âmbito nacional quanto internacional. Em
primeiro lugar, o CNCFlora optou por adotar o
sistema da Lista Vermelha da IUCN para a classificação
das espécies ameaçadas. Esse sistema utiliza dados e
padrões de avaliação rigorosos, o que, se por um lado
gera demandas adicionais para a equipe avaliadora, por
outro, significa que a informação sobre a flora brasileira
pode ser comparada à de outras regiões do mundo e
incluída em análises globais de espécies ameaçadas. Em
segundo, a equipe do CNCFlora desenvolveu sistemas
de informação e capacitação de pessoal, imprimindo
liderança e ímpeto às atividades em andamento para a
elaboração do Livro vermelho e às ações de conservação. A
riqueza da flora, distribuída em muitas áreas geográficas,
torna quase impossível programar grupos de trabalho em
que todos os especialistas relevantes possam se reunir para
compartilhar dados. A estratégia adotada para a elaboração
do Livro Vermelho da Flora do Brasil foi desenvolver
um portal online para a inserção e validação de dados,
permitindo que uma rede de especialistas botânicos
compartilhasse informações e participasse da avaliação
sem a necessidade de estarem todos juntos, no mesmo
local. Essa inovação produziu uma ferramenta que outros
países podem emular para completar suas listas.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro e CNCFlora
devem ser parabenizados pela finalização desta lista
inicial, bem como encorajados a prosseguir com o
excelente trabalho nas avaliações de risco da flora do
Brasil para inclusão na lista vermelha. Com a dinâmica
inicial já traçada, a habilidade desenvolvida pelos jovens
cientistas e os sistemas de informações disponíveis é
possível seguir adiante e elaborar uma lista vermelha
completa para a flora. Feito isso, o Jardim Botânico
do Rio de Janeiro e o CNCFlora poderão liderar o
caminho ao demostrar a viabilidade das listas vermelhas
da flora mundial, conforme vislumbrado na Estratégia
Global para a Conservação de Plantas.
Red lists are an essential tool for conservation.
They provide key information on the current
threatened status of species that can enable all
sectors of government, business and society to prioritise
actions for conservation and undertake development
planning that can minimise impacts on species that
are threatened with extinction. This is particularly
important in those parts of the world with exceptionally
high levels of plant and animal diversity, such as Brazil
with an estimated 41,000 species of plants.
10 | Livro vermelho da flora do Brasil
Despite the clear benefits of red lists, the
development of lists for plants has proved to be a
major challenge. By 2012, only 14500 plants had been
included in the IUCN Red List, which means that red
lists for plants have lagged behind similar initiatives
for animals. In 2010, the countries participating in
the Conference of the Parties to the UN Convention
on Biological Diversity recognised the need to focus
attention on plants. As a result, they approved the
updated Global Strategy for Plant Conservation 2011-
2020 in which all governments undertook to provide
conservation assessments for all the known plant
species by 2020. This is going to be a challenging target
and many people believed that it was an impossible
target, especially for countries with exceptional levels
of plant diversity. Countries such as South Africa
have managed to assess the entire flora and Ecuador
has assessed the endemic species and Brazil has now
taken a significant step towards red listing one of the
largest floras in a single country. This is showing that it
is possible achieve the GSPC target given committed
people and adequate resources.
There are several impressive features about the
Red Book of the Brazilian Flora that have implications
for conservation efforts in Brazil and globally. First,
CNCFlora chose to use the IUCN red list system for
classifying threatened species. This system has rigorous
data and assessment standards, which makes more
demands on the assessment team, but it means that the
information on Brazilian plants can be compared to
other regions of the world and be included in global
analyses of threatened plants. Secondly, the CNCFlora
team have developed information systems and human
capacity that can provide leadership and impetus for
ongoing red list activities and plant conservation actions.
The large number of plant species, covering many
geographic areas, means that it is almost impossible to
hold workshops where all the relevant experts can get
together to share information. The approach adopted
for the Red Book of the Brazilian Flora was to develop an
online portal for data entry and validation that enables
a network of plant experts to share information and
collaborate in the assessments without all sitting in
one room. This innovation provides a tool that other
countries can emulate to complete their plant red lists.
The Rio de Janeiro Botanic Garden and CNCFlora
need to be congratulated on the completion of
this initial list and they are encouraged to continue
with their excellent work on plant Red Lists. With the
momentum that has been built up, the skills acquired by
young scientists, and the information systems in place,
it is possible to move ahead and produce a complete
red list for the entire flora. In doing so, they can lead
the way in showing that it is possible to provide red
lists for the world’s flora as envisaged in the Global
Strategy for Plant conservation.
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