Diversidade e Manejo Florestal - Identificação botânica um passo para a sustentabilidade
A Floresta Amazônica, um dos biomas mais diversos do mundo, se destaca por suas dimensões continentais, englobando aproximadamente 5.000.000 km2, pela diversidade de habitats e pela alta diversidade biológica (AB’SABER 2002, 2006), sendo a maior do planeta (VIEIRA et al. 2005). Um exemplo da alta diversidade biológica é a riqueza florística, estimada em 40.000 espécies vasculares, das quais 30.000 são endêmicas (MITTERMEIER et al. 2003). Esse número representa cerca de 90% de toda diversidade florística brasileira, estimada entre 45.300-49.500 espécies descritas (PEIXOTO & AMORIM 2003, FORZZA et al. 2010). Incentivado pelos programas de crescimento do governo, o processo de ocupação da Amazônia vem, ao longo das últimas década se dividindo em diferentes escalas, provocando impactos negativos sobre essa a alta diversidade biológica. Rocha (2001) divide a ocupação da Amazônia em duas categorias de uso da terra: (1) a de baixos custos ambientais, essa bem representada pelo modelo extrativista, geralmente praticado por populações tradicionais da Amazônia formadas por indígenas, seringueiros e ribeirinhos, que possuem um valioso conhecimento sobre os recursos naturais e seus usos e (2) a de altos custos ambientais, que seria a utilização dos recursos naturais a partir da destruição de importantes ecossistemas, como a pecuária, os cultivos de soja e de cana de açucar, além da exploração madeireira predatória. Buscando uma melhor forma de usar os recursos florestais e diminuir os impactos negativos sobre os mesmos, o artigo 15 do Código Florestal Brasileiro de 1965, determinou a utilização das florestas Amazônicas apenas através de planos de manejo (MANEJO FLORESTAL 2007), tornando-se indispensáveis e obrigatórios para o manejo florestal sustentável (IBAMA 2007). “Entende-se por manejo florestal sustentável a administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo, e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal.” (IBAMA 2007). A partir desta nova visão, a atividade florestal passa a ter destaque no cenário Amazônico, sendo o aumento do número de planos de manejo comunitário e de pequena escala, um reflexo do crescimento da atividade. Em 2007 na Amazônia foram desenvolvidos 176 planos de manejo comunitários e 1.389 planos de manejo de pequena escala, totalizando uma área de 851.103 ha de florestas manejadas (IIEB 2007). No Estado do Acre, a tendência para o manejo florestal é ainda mais visível, uma vez que essa atividade é apoiada incondicionalmente pela política de desenvolvimento estadual, o que tornou o manejo florestal um dos expoentes da economia acreana (ZEE 2006). Entre 2000-2005 o número de planos de manejo comunitários e de pequena escala no estado apresentou um aumento da ordem de 2.000%, passando de dois planos em 2000, para quase 40 planos em 2005 (IIEB 2007). Com o crescimento da atividade florestal, o aperfeiçoamento das técnicas que garantam a redução dos impactos causados pela exploração dos recursos florestais (manejo de cipós, implementação de parcelas permanentes, queda direcionada das árvores, entre outras) e a recuperação fisionômica das áreas exploradas (ASNER et al. 2004), se tornou um grande desafio para os atores envolvidos no processo e um dos quesitos fundamentais para que empresas e associações comunitárias envolvidas recebam o certificado internacional do Conselho de Manejo Florestal (FSC 2007). A certificação é um instrumento de política florestal relativamente novo, que visa fomentar o manejo responsável dos recursos por meio da rotulagem de produtos de consumo. A premissa é de que os consumidores procurarão e apoiarão produtos com a reputação de certificados por provirem de fontes bem manejadas. Embora o foco da certificação do manejo florestal esteja predominantemente sobre os produtos madeireiros, atualmente os Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNMs) também vêm se tornando alvo de atenção (SHANLEY et al. 2002). O aperfeiçoamento das técnicas e do processo de certificação embutido no manejo florestal é uma realidade, porém, tal atividade ainda carece de informações científicas básicas que permitam o conhecimento e o monitoramente dos reais impactos por ela gerados, em especial, sobre a composição das espécies e a paisagem, a curto, médio e longo prazo. Atualmente a qualidade das identificações botânicas em áreas de manejo é um dos principais gargalos da atividade (DALY 2007), já que, uma cascata de problemas como a inconsistência dos mateiros em campo, “empilhamento” de nomes vulgares para diversas espécies, variação regional nos nomes vulgares, e talvez o mais grave a tradução automática dos nomes vulgares por nome cientifico, sem o mínimo critério cientifico ao longo do processo gera um erro que acumulado pode ultrapassar aos 70% (Daly e Obermüller, Comunicação Pessoal). Assim uma identificação rigorosa baseada em nomes científicos e não em nomes populares como é feita hoje é um desafio. Com os erros de identificação, além das possíveis conseqüências ambientais, como a extinção local de algumas espécies, a subestimação da biodiversidade e as mudanças na composição das espécies e na estrutura das floresta (Daly 2007), vem também os problemas de ordem operacional que afetam diretamente a produtividade e a geração de renda pelas empresas envolvidas no Manejo, conforme nos exemplos que se seguem: • No Pará, tauari corresponde a seis espécies de Lecythidaceae. Uma delas apresenta alta taxa de sílica que danifica a corrente das moto serras, e outra é tão rara que poderia facilmente ser extinta localmente. • No Estado do Acre, o plano de manejo de 2008 da Fazenda São Jorge I de propriedade da Empresa Laminados Triunfo Ltda, uma das árvores mais comuns no inventário foi identificada como paineira (Ceiba lupuna), espécie considerada não comerciavel para o manejo realizado pela Empresa. Na verdade, paineira tratava-se da samaúma (Ceiba pentandra) uma espécie bem conhecida e valorizada pelo mercado. Visando melhorar este cenário, diversas medidas que sejam eficientes e econômicas podem ser tomadas senão para resolver, mas para diminuir esse problema como, por exemplo, adotar medidas pré e pós aos inventários. Exemplos de medidas Pré e Pós: Pré: • Utilização de mateiros regionais; • Recrutamento de mateiros capacitados “padronizados” e regulamentados quanto profissionais; • Elaboração de cartilhas para as espécies arbóreas que tratem características morfológicas e ecológicas; • Desenvolvimento e uso de guias de campo regionais e locais. Pós: • Utilização de índices regionais para comparação e tradução dos nomes populares - checklist das floras regionais; • Adoção de métodos de sub amostragem, envolvendo coletas botânicas de uma porcentagem das árvores dos inventários e confirmação da identificação.
Diante dos desafios para uma boa identificação botânica, um conjunto de iniciativas e atividades tem que ser pensadas e desenvolvidas com os atores envolvidos no manejo florestal madeireiro, já que, uma identificação botânica rigorosa busca atingir não apenas o aspecto ambiental e conservacionista, mas também a otimização da produtividade das empresas e, conseqüentemente, a diminuição das pressões e impactos negativos sobre os recursos naturais, contribuindo assim para a manutenção de florestas saudáveis e produtivas. Com relação à diversidade arbórea, o manejo florestal como está sendo praticado na Amazônia é inválido e inaceitável, trazendo resultados negativos tanto econômicos como ambientais. Existem soluções -- estratégias, critérios e protocolos -- que são práticos e bastante eficientes cientificamente e economicamente, porque aproveitam a existência de uma comunidade dinâmica de cientistas e ONGs no Brasil. Implementar soluções envolverá investimentos modestos por parte das empresas e do governo, compromissos para apoiar a pesquisa e coordenação (aproximação) entre os projetos florestais, o governo e as instituições de pesquisa. |