com Enfoque na Experiência do Visitante e na Proteção dos Recursos Naturais e Culturais INTRODUÇÃO O esforço de manejar a visitação com a minimização de impactos e o oferecimento de oportunidades recreativas de alta qualidade em ambientes naturais protegidos tem sido empreendido, desde os anos 70, em diferentes países do mundo, inclusive da América Latina. O conceito de capacidade de carga originou-se a partir dos pressupostos da “Tragédia dos Comuns”, uma discussão iniciada em 1968 com o artigo de Garret Hardin na revista científica Science (Manning, 2007). A Tragédia dos Comuns refere-se a um estudo feito pelo autor a respeito do uso de áreas coletivas ou públicas nos Estados Unidos, por particulares, para pastagens. Ele considerou que, sem uma ação deliberada de manejo com coerção mútua e regulamentação, o uso dos recursos de áreas públicas inevitavelmente excederia a capacidade do ambiente de se regenerar, porque cada empreendedor tem interesse de explorar o máximo da área para maior ganho econômico. Nos anos de 1970, os conceitos da Tragédia dos Comuns passaram a ser uma referência na discussão do uso de bens comuns e manejo em diferentes tipos de áreas públicas nos EUA. De acordo com Manning (2007), Hardin também sugeriu que o mesmo conceito fosse aplicado aos parques nacionais, considerando o número máximo de pessoas que poderiam visitar a área sem destruir as qualidades essenciais dos recursos naturais. Desse modo, as primeiras experiências nos EUA, nas décadas de 1960 e 1970, tiveram foco em controlar o nível de uso (quantidade de visitantes) nas áreas protegidas para diminuir impactos sociais e biofísicos (Wurz et al, 1997). Com o aumento da demanda pela visitação em parques nacionais, houve o reconhecimento formal do Serviço de Parques dos EUA da necessidade de aprimorar o manejo do uso público em Unidades de Conservação (UC). Assim, dois principais componentes surgiram como foco das preocupações: o biofísico relativo aos impactos da visitação nos recursos e o social relacionado ao tipo e à qualidade da experiência que os visitantes tinham durante sua estada no parque. ROTEIRO METODOLÓGICO PARA MANEJO DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO 9 Manning (2007) analisa que o conceito de capacidade de carga, relacionado ao uso humano de um determinado espaço e de recursos naturais, envolve uma complexidade de fatores que são influenciados pelos valores, pelo comportamento e pelas escolhas das pessoas. Desse modo, dificilmente existe uma relação direta entre o número de visitantes e os níveis de impactos. De acordo com Cole (1985 apud Manning, 2007), a maioria dos impactos biofísicos ocorrem com pouco uso e os impactos sociais dependem mais do tipo, do tempo, do lugar de uso, dos encontros, das expectativas dos visitantes e do comportamento dos outros visitantes. Assim, a concepção inicial de limitar o manejo de impactos ao controle do número de visitantes em um determinado lugar se modificou, dando lugar a análises de alterações no ambiente, com monitoramento e à utilização de estratégias criativas de manejo dos visitantes e de seus impactos. Ao longo dos anos, em diversos países do mundo, metodologias e manuais com orientações e procedimentos de trabalho foram sistematizados e aplicados em parques e em outras Unidades de Conservação. Apesar de apresentarem-se como publicações distintas, a maioria das metodologias tem muitas características em comum. De fato, cada uma delas foi elaborada como aperfeiçoamento das que vieram anteriormente, considerando as adequações necessárias à realidade das áreas protegidas para a qual foi elaborada e aos critérios da instituição empreendedora. No Brasil, desde que os parques nacionais foram criados, o estudo e o manejo de impactos da visitação têm sido realizados de forma pontual, sem um marco conceitual e procedimentos comuns. Ano a ano, a visitação nas UC brasileiras cresce e, com isso, aumenta a demanda por conhecimentos, habilidades e ferramentas para que seja possível proporcionar experiências de alta qualidade aos visitantes e também controlar ou reduzir os impactos decorrentes das visitas. Vale lembrar que os princípios nacionais para a visitação em Unidades de Conservação preconizam a visitação como um “instrumento essencial para aproximar a sociedade da natureza e despertar a consciência da importância da conservação dos ambientes e dos processos naturais, independente da atividade que se está praticando na unidade de conservação” (MMA, 2006). |