Midiateca

Plano de Ação Nacional - PAN _ para a Conservação do Ouriço Preto

Autores

ORGANIZADORES

Deborah Faria

Gastón Andrés Fernandez Giné

MARCELO LIMA REIS

Ano de Publicação
2011
Categoria
PESQUISA AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE
Descrição

m 2003, o Ministério do Meio Ambiente lançou um edital para viabilizar a elaboração de Planos de Ação (PAN) para espécies ameaçadas da fauna brasileira, um dos compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica. Morando e estudando a biodiversidade no sul da Bahia desde 1997, recém contratada como professora adjunta pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), entendi que a instituição já tinha no seu quadro técnico pesquisadores competentes e comprometidos capazes de contribuir para a elaboração do PAN para uma das muitas espécies animais ameaçadas nesta região tão rica em biodiversidade. O ouriço-preto chamava a atenção entre as várias espécies da lista da fauna ameaçada por se tratar de um representante endêmico da Mata Atlântica, cujos estudos anteriores apontavam a região cacaueira do sul da Bahia como detentora de uma das principais populações remanescentes. No entanto, era evidente a escassez e a baixa qualidade das informações biológicas disponíveis para a espécie. A literatura científica sobre o ouriço-preto resumia-se a menos de uma dezena de trabalhos, entre notas e artigos. O desafio era, em apenas dois anos, desvendar os aspectos básicos da biologia da espécie e efetivamente avaliar seu status de conservação e, por fim  propor um plano de ação para a conservação do ouriço-preto.

A pós a obtenção dos recursos por meio do edital FNMA/PROBIO 01/2003, entre 2004 e 2006, coordenei uma equipe multidisciplinar que iniciou o trabalho intensivo de obter informações sobre a história natural, ecologia, distribuição, comportamento e genética do ouriço-preto. A proposta foi liderada por intermédio da parceria entre o Instituto Dríades de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade e a Universidade Estadual de Santa Cruz e incluiu também pesquisadores e estudantes de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e da  Universidade Federal do Espírito Santo. A s dificuldades do projeto começaram pela própria detecção da espécie in situ. Este obstáculo só foi superado com a inclusão, na equipe técnica, do Sr. Antonio Oliveira de Jesus, o Seu Toninho, ex-caçador que, com precisão, não apenas encontrou ouriços como treinou a equipe na busca da espécie. Com seu Toninho, a equipe do projeto percorreu mais de 12.000 km entre os estados do Sergipe e norte do Rio de Janeiro, conduzindo 325 entrevistas com moradores locais e realizando mais de 200 horas de busca ativa em fragmentos para estabelecer a distribuição geográfica atual do ouriço preto.

E m fragmentos florestais do Espírito Santo e sul da Bahia, 12 indivíduos foram capturados e monitorados por mais de 700 horas, o que rendeu informações inéditas acerca da área de vida, dieta, período de atividade e comportamento. Os hábitats mais utilizados e as espécies vegetais mais consumidas pela espécie foram, pela primeira vez, sistematicamente registrados. Estudos genéticos revelaram uma estruturação das populações ao longo da sua área de distribuição, assim como o grau de variabilidade genética dentro e entre as populações remanescentes. A partir destes dados científicos inéditos a equipe de cientistas entendeu que o ouriço-preto deveria ser mantido na atual categoria de Vulnerável à Extinção, corroborando a necessidade de se elaborar um plano de ação para tentar reverter este processo e conservar a espécie. O Plano de Ação para Conservação do Ouriço-preto aqui apresentado é, portanto, o resultado prático desse esforço conjunto de pesquisa e da proposição de ações por pessoas e instituições que, de alguma forma, representam atores relevantes para viabilizar a conservação desta espécie da Mata Atlântica. O trabalho segue o exemplo dos demais Planos de Ação propostos para outras espécies ameaçadas e mostra a importância da mobilização da comunidade científica visando direcionar suas pesquisas para obter dados biológicos que preencham lacunas de informações capazes de embasar ações práticas de conservação. Eu e todas as pessoas e instituições que participaram das várias etapas da elaboração do PAN esperamos que as ações aqui propostas sejam efetivamente colocadas em prática.

Deborah Faria

Universidade Estadual de Santa Cruz –UESC

Tipo de publicação
Livro
Local da publicação
Brasília, DF http://www.icmbio.gov.br/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-planos-de-acao-nacionais
Nº da edição ou volume
Série Espécies Ameaçadas nº 17
Editora
ICMBIO
Link