APRESENTAÇÃO Pode parecer clichê que animais e plantas vivam em total harmonia com os ciclos do planeta, apesar de toda a ameaça. Tal
qual uma rede intrincada de conexão, uns vivem dos outros,
uns apoiam e auxiliam mutuamente os outros, uns estão intimamente conectados aos outros. E basta a retirada de um
para se ver, como em uma fileira de dominós sendo derrubados, outros serem direta ou indiretamente impactados.
Animais e plantas ‘conversam entre si’. E se estão em áreas
protegidas por lei, como as Unidades de Conservação criadas
pelo ICMBio, esse ‘diálogo’ acaba sendo, digamos, ‘mais duradouro’. Afinal é ali, no território protegido, que pode haver a
perpetuidade ‘da conversa’, frente a tantas ameaças, como a
do homem e do clima.
A rede é a forma como atuam. E assim, seguindo este mesmo
modelo, estão atuando os 14 Centros Nacionais de Pesquisa e
Conservação do ICMBio, que juntos recriam incessantemente
esse processo de conexão entre espécies e as áreas protegidas onde ocorrem. O foco são as ações para a conservação, a
materialização em planos de ação, em pesquisa e monitoramento, que atualmente atendem 193 Unidades de Conservação, número esse que se espera que cresça.
E para isso não se trabalha sozinho. Todos os centros contam
com a participação da comunidade científica, de ONGs, da
sociedade civil e de setores como o público e o privado, que
somam mais de 300 colaboradores nessa rede.
Ao todo já se celebra o rol de 54 PANs (Planos de Ação Nacionais para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção)
construídos e em implementação, totalizando 545 espécies
ameaçadas contempladas nesses instrumentos de gestão. Tal
feito levou o ICMBio a ser premiado no Prêmio Nacional da Biodiversidade 2017, e a avançar na direção de PAN’s Temáticos
por biomas ou regiões.
O diagnóstico sobre o estado de conservação das espécies da
fauna, em que foram analisadas 12.256 espécies, representa outra conquista importante do ICMBio que contou com atuação preponderante dos centros, sendo estes os responsáveis
pela condução destas avaliações. Este processo resultou na
publicação das listas de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção (Portarias 444 e 445/2014) pelo Ministério do
Meio Ambiente.
O trabalho é grande e o desafio maior ainda, pois as ameaças
aumentam. Mas os profissionais envolvidos em cada um desses centros não medem esforços para verem resultados concretos, como o manejo que leva à recuperação de espécies do
seu patamar de ameaça e à restauração dos ecossistemas que
as abrigam.
Exemplos saltam aos olhos, como o manejo de jacarés na Reserva Extrativista do Lago Cuniã, que trouxe um novo modelo
de desenvolvimento para a comunidade tradicional, promovendo uma nova cadeia produtiva - a da sociobodiversidade
amazônica. Um outro importante projeto – Primatas em UCs
da Amazônia – obteve saldo muito importante de uma espécie
redescoberta e de ver ampliada a distribuição de outras cinco.
As onças estão aumentando no PARNA Foz do Iguaçu, as tartarugas voltando a colonizar praias antes perdidas, as baleias
estão saindo da lista de espécies ameaçadas, e os peixes sendo avaliados e classificados quanto ao grau de ameaça, tudo
isso em uma nova fase de gestão destas espécies.
A proposta de futuro dos centros é transversalizar ainda mais
essa rede, fazendo com que o que vem dando certo, se amplie
ainda mais. Os PANs devem ganhar uma maior abrangência,
incluindo espécies ainda não contempladas, definindo áreas
estratégicas e ampliando o número de ecossistemas e Unidades de Conservação atendidas. Para isso, entre outros, o desafio será contar com o envolvimento maior dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs).
A sede de conhecer mais, por parte de nossos pesquisadores,
é grande. Tanto que vem aí um Plano de Pesquisa, que está em construção no ICMBio, visando ampliar ainda mais as ações
de pesquisa que atualmente são coordenadas pelos centros e
realizadas com parceiros. Ou seja, nosso trabalho, pautado na
paixão pela biodiversidade brasileira, nunca para.
Marcelo Marcelino - Diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade
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