Considerações finais Observamos que algumas iniciativas de TBC, pelo apoio do MTur e por sua própria dinâmica de funcionamento, estão mais consolidadas do ponto de vista de organização, gestão, oferta, em termos de visibilidade e reconhecimento pelo poder público, em particular, e pelos atores do turismo, de uma forma geral. O registro da experiência de três anos de trabalho da Coordenação de Projetos de Estruturação do Turismo em Áreas Priorizadas (CGPE), do Departamento de Qualificação, de Certificação e de Produção Associada ao Turismo (DCPAT), revelou um cenário marcado pela complexidade, diversidade, especificidade, potencialidade e limites para a inserção produtiva relacionada ao turismo. O investimento realizado foi de cerca de R$ 10 milhões dos recursos de programação do MTur para promover o TBC, apoiando 42 projetos com o objetivo de melhorar e promover a qualidade dos produtos e serviços ofertados. Foram beneficiadas aproximadamente 8 mil pessoas, distribuídas em 46 municípios das cinco regiões do País, dos quais 15 estão entre os 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. Neste trabalho de análise, foi possível a identificação de desafios e potencialidades que consideraram aspectos internos e externos aos projetos, o funcionamento do mercado turístico e suas tendências, as especificidades do seu público-alvo, a diversidade das experiências e as possibilidades de ação em parceria com o setor público. A estruturação, organização e comercialização das experiências de TBC, aliadas à cadeia produtiva do turismo requerem, por um lado, o enfrentamento dos desafios e, por outro, a formulação de ações concretas no campo das possibilidades. Para a formulação de uma política pública, com maior grau de eficácia e efetividade, faz-se premente a distinção entre aspectos internos e externos que têm impacto sobre o formato da oferta dos produtos e serviços de TBC. Entre os aspectos internos devemos considerar o funcionamento do mercado turístico e suas tendências, as especificidades desta oferta e demanda e a diversidade das experiências. Quanto aos de ordem externa, importa ressaltar a viabilidade de articulação para estabelecer sinergias e prioridades quanto a um conjunto de ações relacionadas à educação, saúde, infraestrutura, preservação ambiental e adequação de marcos legais de diversas ordens. Tudo isso deve ser realizado em cooperação com o poder público, estadual, municipal e federal, não somente para o desenvolvimento das atividades turísticas, mas principalmente, para a criação de condições para um real desenvolvimento econômico e social sustentável. Entre as potencialidades dos projetos de TBC apoiados pelo MTur, foi possível notar que as ações de mobilização, sensibilização e motivação das comunidades para o turismo ocorreram, na maior parte dos projetos, de forma bem-sucedida. Por isso mesmo são importantes instrumentos de coesão social, pré-requisito para uma oferta turística de destinos, produtos ou serviços baseada no associativismo e nos princípios da economia solidária. Percebe-se que houve uma evolução no entendimento da dinâmica da atividade turística e das possibilidades e limites do TBC, e um consequente avanço na organização e gestão das iniciativas deste modelo. Esta evolução se deu tanto nas ações de qualificação realizadas pelos projetos, quanto nas interações entre as iniciativas ou nos intercâmbios e encontros promovidos no âmbito dos projetos. Mesmo estando em níveis distintos de organização da oferta, pode-se afirmar que a ação de fomento ao TBC no País fortaleceu estes destinos, em termos de qualidade de gestão e oferta, promoção nacional e internacional, introdução de novos produtos e serviços. Isso é resultado das diversas ações de qualificação desenvolvidas e do reconhecimento que o Turismo de Base Comunitária obteve por parte dos formadores de opinião, o que pode vir a facilitar a interlocução com o trade turístico e outros atores, particularmente o poder público local. Defendemos a continuidade do investimento público para apoiar as iniciativas de TBC, para a consolidação dos avanços destacados nas potencialidades e oportunidades. Assim, a inclusão deste tema no Documento Referencial Turismo no Brasil 2011-2014, elaborado no âmbito do Conselho Nacional do Turismo, foi um passo importante para a institucionalização do tema nas políticas públicas de turismo no País. Este documento servirá ainda para subsidiar o debate sobre o desenvolvimento da atividade turística no País, para a formulação de políticas públicas, para os investimentos privados e para a ação empresarial. Quanto às fragilidades, nos é possível observar, principalmente na perspectiva interna, a organização e estruturação da oferta com qualidade, segurança e viabilidade econômica. A definição dos conteúdos de qualificação dos serviços, produtos e pessoas, conforme as exigências do mercado, deve adotar como princípio a aplicação, com as adaptações necessárias, das normas técnicas de certificação do turismo desenvolvidas pelo MTur e publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), de modo a estabelecer um padrão mínimo de qualidade da oferta. Quanto ao processo de promoção e comercialização da atividade, observamos algumas inconsistências relativas à baixa qualidade de comunicação dos materiais promocionais desenvolvidos no âmbito dos projetos, com falta de foco no cliente. O estabelecimento de uma estratégia de divulgação para o mercado, com maior grau de profissionalização, associando a promoção dos destinos onde os projetos se encontram à promoção do País, de uma forma geral, nos parece uma alternativa viável para promoção dos projetos. A linguagem utilizada nos materiais elaborados, de uma forma geral, é pouco centrada em atrair o turista. Detecta-se certa ambiguidade entre a comunicação institucional do projeto e da experiência e a de promoção dos destinos, produtos e serviços, ofertados aos visitantes. Apesar das iniciativas de TBC não se resumirem aos aspectos estritamente econômicos, não há como prescindir deles, e para a atração do visitante é necessário certo nível de qualidade da oferta turística, sem que isso altere de forma significativa o modo de vida local. Este fato cria dificuldades no processo de promoção e comercialização da atividade. Tal interpretação nos conduz ao entendimento de que o Turismo de Base Comunitária deve estar na pauta de formulação de políticas públicas, não apenas em âmbito federal. Para tanto, a aproximação das iniciativas das políticas dos Estados e municípios é uma variável importante. A definição de uma política pública para o TBC não deve perder de vista os aspectos apontados anteriormente. Mais, pela própria natureza da atividade, é condição sine qua non contemplar diferentes estratégias de atuação e apoio, de modo a compatibilizar a singularidade, a autenticidade e a originalidade deste produto com a viabilização econômica da atividade. Enfim, inúmeros são os desafios a serem enfrentados pelo poder público, comunidades anfitriãs, mercado e instituições não governamentais, para concretizar as atividades de Turismo de Base Comunitária, como opção econômica com geração de trabalho e estratégia de diversificação da oferta turística do País. Ou, como afirma a professora Marta Irving: “Precisamos de muita vontade, de cabeças abertas para mudanças, de diferentes agentes sociais, integrados, trabalhando em parceria para resolver e partilhar o turismo sustentável.”
1. Turismo comunitário. 2. Projetos de turismo de base comunitária.
3. Experiências – ações de promoção ao turismo comunitário. |