Por que e como monitorar a biodiversidade? O monitoramento é parte do vocabulário de todo administrador, inclusive da área ambiental, por integrar os ciclos de avaliação de resultados e melhoria de processos, em qualquer metodologia empregada (os ciclos conhecidos genericamente como PDCA ). No âmbito da administração, em geral predominam monitoramentos de atividades, de processos e do grau de execução dos programas. Porém, são mais raros os monitoramentos que visam à avaliação do impacto real das ações sobre o objeto de interesse, isto é, as avaliações de efetividade, ainda mais na esfera pública de atuação, onde os processos e fluxos são complexos, envolvem centenas de pessoas, e sofrem intervenções de muitos outros setores. No caso da agenda ambiental, é fundamental o monitoramento da biodiversidade, objeto principal das ações de conservação, para que o ciclo de planejamento seja cumprido e se busque maior efetividade na gestão, que em última instância almeja a conservação de espécies, ecossistemas e recursos para as futuras gerações. Tal monitoramento tem se mostrado fundamental também para avaliar a sustentabilidade dos processos de extrativismo de recursos naturais em unidades de conservação, subsidiando o manejo e fornecendo as informações necessárias para a obtenção de certificações diversas. O mundo está mudando de forma acelerada, o colapso dos recursos naturais é evidente, os conflitos pelos recursos tendem a se agravar e a sociedade e a gestão são cada vez mais complexas. Neste contexto, é imperioso buscar a efetividade das ações de conservação, assim como melhor compreender o impacto sinérgico, ou não, do conjunto de fatores que afetam a biodiversidade e a capacidade produtiva dos ecossistemas. Atualmente são necessárias respostas em várias escalas – trata-se de pensar localmente e também globalmente, e de agir localmente e também globalmente. Por exemplo, é preciso subsidiar instrumentos locais de manejo, como acordos de pesca, informar análises sobre alternativas locacionais de empreendimentos em escala regional, ou ainda subsidiar os relatórios para acordos internacionais sobre o status da biodiversidade no país, tendo como exemplo as metas de Aichi da Convenção da Diversidade Biológica (CDB, 2010). Na gestão das áreas protegidas, a adoção de estratégias de manejo adaptativo também traz uma responsabilidade maior aos programas de monitoramento, uma vez que fica explícita a tomada de decisão em cenários de inevitáveis incertezas, com ações a serem revistas de forma periódica com base nos resultados alcançados. Propostas mais ousadas de manejo (ordenamento da pesca, inclusive de espécies ameaçadas, manejo da fauna, manejo do fogo, dentre outros) e de intervenção estão sendo implementadas e associadas a programas de monitoramento que permitam corrigir rumos. É preciso fortalecer este caminho de resposta aos novos desafios mundiais e, em tal contexto, o monitoramento torna-se um importante avalista, ao trazer alertas e insumos para avaliação e eventual correção de rumos. Ao mesmo tempo, vários instrumentos de planejamento estão evoluindo e deixando mais explícitos os valores, objetivos e modos de intervenção previstos, gerando também demandas mais precisas à agenda de monitoramento. A cobrança por dados e informações oriundos de programas estruturados de monitoramento da biodiversidade é, portanto, crescente, mas para que traga os resultados esperados é fundamental que haja articulação e integração entre as iniciativas, com clareza no modelo conceitual adotado (ou modelos, com vários graus de articulação entre si), sua relação com manejo e instrumentos de gestão, estratégia de envolvimento e reconhecimento dos envolvidos e interessados. É fundamental também que o processo completo seja implementado, incluindo concepção, coleta de dados consistente, excelência na gestão de dados e na elaboração de informações, capacitação em todos os níveis (tanto para a produção como para a análise e emprego das informações geradas) e elaboração de produtos adequados para diferentes públicos e propósitos. Isso tudo para que melhores decisões sejam tomadas na gestão da biodiversidade e na repartição dos seus benefícios à sociedade, de forma mais ampla e democrática do que historicamente feita. Em última instância, é fundamental avançar na gestão do conhecimento, para que o monitoramento seja na verdade um catalisador, um articulador das várias formas de conhecimento e expectativas diversas, assim como do debate e busca de soluções. Adaptar processos de gestão a partir dos resultados do monitoramento, envolvendo o diálogo e a ampla participação, é o grande e necessário desafio. O avanço nos processos democráticos trouxe a expectativa e a cobrança por mais descentralização na gestão, o que inclui a demanda por participação no monitoramento, o reconhecimento e a legitimação das formas de conhecimento não acadêmicas e o diálogo entre formas de conhecimento, incluindo o tradicional, o da gestão e o científico, assim como o fortalecimento dos espaços de governança, em qualquer escala ou esfera, incluindo os conselhos das unidades de conservação, os comitês dos planos de ação das espécies ameaçadas e tantos outros.
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