Além de estar vinculado a um “desenvolvimento” baseado na constituição de desigualdades, o sistema capitalista, atual modelo hegemônico de desenvolvimento, lançou a sociedade numa forte crise ambiental. Essa crise pode ser abordada de diferentes maneiras. Uma dessas abordagens parte da premissa de que os atuais problemas ambientais não estão localizados na natureza e fora da sociedade; não são problemas “ambientais”, mas sim sociais com desdobramentos ambientais; e que o modelo de produção capitalista está no cerne dessa atual crise. Assumo esta perspectiva a partir de autores vinculados à ecologia política e que versam principalmente sobre os conflitos socioambientais brasileiros. O materialismo histórico-dialético foi o referencial teórico basilar para esta pesquisa que objetivou descrever e analisar a organização socioeconômica de comunidades tradicionais inseridas na Reserva Extrativista Terra Grande-Pracuúba - localizada na Ilha do Marajó/PA – e sua relação com a dimensão ambiental. Nessa trajetória, partindo-se de uma abordagem psicossocial e qualitativa, foram adotadas as técnicas ‘observação participante’ e ‘entrevistas centradas’(focused interview). Para a análise dos dados utilizou-se a técnica ‘análise de conteúdo’, tendo como ferramenta de suporte o Atlas Ti. Foi possível constatar que os grupos sociais analisados exercem suas práticas econômicas, seu trabalho, de maneira espacialmente integrada às demais práticas materiais e imateriais necessárias à sua reprodução social. Tal integração favorece a manutenção ecossistêmica de seus territórios, especialmente diante do atual modelo hegemônico de desenvolvimento, que se caracteriza pela alta mobilidade do capital. Frente às possibilidades de avanço deste modelo ambientalmente predatório sobre seus territórios conservados, constatou-se que o fomento às suas práticas produtivas tradicionais, especialmente às voltadas para a produção de bens com significativo ‘valor de uso’, para além de favorecer a autonomia socioeconômica e política desses povos; tende a potencializar a conservação ecossistêmica local frente ao avanço de injustiças socioambientais.
Palavras-chave: conflito socioambiental; psicossociologia; povos e comunidades tradicionais; sentidos de comunidade; emancipação.
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