INTRODUÇÃO Os mamíferos carnívoros são considerados elementos importantes na estrutura de comunidades, e o desaparecimento desses pode trazer graves conseqüências ao ambiente1. Os carnívoros, na sua maioria, utilizam grandes áreas, assumindo um papel de “indicadores ou ferramentas conservacionistas”, já que suas necessidades ecológicas podem abranger as de várias outras espécies2. Há hipóteses que sugerem que os predadores podem contribuir para a manutenção da diversidade biológica, predando espécies competitivamente dominantes3. Esse “efeito-chave” da predação baseia-se na suposição de que predadores podem manter espécies de níveis tróficos inferiores abaixo da capacidade de suporte do ambiente, reduzindo a intensidade de competição interespecífica, permitindo maior sobreposição de nicho e maior riqueza de espécies4. Na América Latina, os felídeos são representados por dez espécies: onça-pintada, suçuarana, jaguatirica, gato-do-matopequeno, gato-do-mato-grande, gato-palheiro, gato-maracajá, gato-mourisco, gato-montês-andino e guinha, mas essas duas últimas espécies não ocorrem no Brasil. Todos os felídeos estão, em diferentes graus, ameaçados de extinção em toda ou em partes de sua área natural devido, principalmente, a destruição e fragmentação de habitat e à caça. Esses e outros fatores podem levar ao isolamento de populações e a conseqüente diminuição da variabilidade genética, com posterior extinção local5,6. A diminuição do intercâmbio genético, a longo prazo, leva à perda de variabilidade genética e diminuição do potencial reprodutivo, como relatado em guepardos (Acinonyx jubatus), leões (Panthera leo) e puma-da-flórida (Puma concolor coryi)7,8. Uma ampla estratégia de conservação dessas espécies inclui, além da preservação de habitat, a criação em cativeiro, a formação de bancos de amostras biológicas e a aplicação de técnicas de reprodução assistida como ferramentas importantes no manejo de metapopulações (Fig. 77.1), garantindo a preservação de material genético in vivo (vida livre e cativeiro) e in vitro (por meio da criopreservação)9-11. A maior parte dos pequenos felídeos em cativeiro em instituições latino-americanas tem origem conhecida, sendo provenientes da natureza ou com pais oriundos de determinada região. Não se pode dizer o mesmo da população de grandes felídeos em cativeiro na América Latina, composta por um grande número de animais de origem desconhecida ou oriundos do acasalamento de indivíduos de diferentes biomas e, possivelmente, subespécies distintas, podendo ser classificados como genéricos. Essa constatação reforça a necessidade do cuidado nos programas de acasalamento, para que sejam gerados animais com valor genético, sendo recomendado um manejo por biomas, respeitando o que se observou em termos de diferenciação histórica, ou seja, o ideal é cruzar os indivíduos com outros que venham da mesma região e do mesmo tipo de ecossistema*. Aspectos da reprodução de algumas espécies de felídeos neotropicais têm sido avaliados, já que o conhecimento básico da biologia da espécie, incluindo aspectos reprodutivo |