PRIMATAS DA RPPN GARGAÚ, PARAÍBA, BRASIL
Introdução A comunidade de primatas da Floresta Atlântica, um hotspot para a conservação biológica (Myers et al., 2000), é composta por pelo menos 21 táxons e, em certas regiões, até seis espécies podem conviver de forma simpátrica. Contudo, este bioma já perdeu mais de 93% de sua cobertura florestal original (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2002). Na área compreendida pela Zona da Mata dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, a biorregião Pernambucana (Galindo-Leal e Câmara, 2005) ou Centro de Endemismo Pernambuco (Silva e Casteleti, 2005), os remanescentes florestais não chegam a 5% de sua extensão original, pulverizados em uma matriz de canaviais (Coimbra-Filho e Câmara, 1996; Silva e Casteleti, 2005). Nesta paisagem altamente fragmentada do Centro de Endemismo Pernambuco são encontradas três espécies de primatas, o sagui-de-tufos-brancos Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758), o guariba-de-mãos-ruivas Alouatta belzebul (Linnaeus, 1766) e o macaco-prego-galego Cebus flavius (Schreber, 1774). Callithrix jacchus é uma espécie relativamente comum, ocorrendo também na região da Caatinga. Apesar de A. belzebul apresentar uma população disjunta na Amazônia oriental em razoável estado de conservação, a situação de suas populações remanescentes na Floresta Atlântica nordestina é crítica (Oliveira e Oliveira, 1993). Cebus flavius foi redescoberto em 2006 como táxon válido (Oliveira e Langguth, 2006). Segundo estes autores, a espécie ocorreria na Floresta Atlântica nordestina ao norte do rio São Francisco. Estudos em andamento apontam que as populações atuais de C. flavius na natureza não ultrapassam duas dezenas (Ferreira et al., 2007), o que sugere uma situação de altíssima vulnerabilidade. A espécie já é listada como Criticamente Ameaçada pela IUCN (2008). O processo de fragmentação florestal pode afetar a viabilidade de populações selvagens de diversos modos, tais como o incremento da endogamia e a consequente susceptibilidade a doenças (Frankham et al., 2002). Por sua vez, os primatas podem responder à fragmentação alterando seu padrão de atividades, sua dieta e sua área de uso entre outros (Marsh, 2003). Populações remanescentes de primatas mais generalistas, como algumas espécies de Alouatta, Cebus e Callithrix (Crockett, 1998; Chiarello, 2003), são capazes de suportar o efeito de borda e se deslocar e/ou se alimentar de recursos do entorno dos fragmentos (pastagens e plantios, por exemplo). Assim, estas populações têm maiores probabilidades de sobreviver ao processo de fragmentação e isolamento e podem dispersar e colonizar outros fragmentos. Esta flexibilidade adaptativa, no entanto, não representa uma garantia de sobrevivência (Marsh, 2003). Perturbações antrópicas, como a caça e o corte seletivo, e fatores estocásticos podem diminuir a probabilidade de sobrevivência das populações (Cowlishaw e Dunbar, 2000; Chiarello, 2003; Vieira et al., 2003). Neste estudo são apresentadas estimativas de abundância para as três espécies de primatas ocorrentes em um dos maiores fragmentos florestais da Floresta Atlântica paraibana. |