RESUMO
A Rede Internacional de Pesquisadores em Justiça Climática e Educação Ambiental
(REAJA) estuda como a crise climática afeta o planeta como um todo, sendo mais
fortemente sentida em grupos sociais em situação de vulnerabilidade. No Brasil,
os incêndios florestais são um dos fatores que contribuem para a emissão de gases
de efeito estufa (GEE) na atmosfera, acelerando o colapso climático. A política do
“Fogo Zero” adotada pelo governo brasileiro é uma das responsáveis pelo aumento
dos incêndios florestais no Cerrado, pois não leva em consideração que o bioma é
dependente do fogo, ou seja, onde este elemento não é considerado um distúrbio,
mas fator imprescindível para a preservação de seus processos ecológicos. A
exclusão do fogo no Cerrado acarreta acúmulo de matéria orgânica em extensas
áreas e facilita a propagação de incêndios de grandes proporções nas épocas
secas, que atingem indiscriminadamente áreas protegidas e privadas com
enormes perdas de biodiversidade, impactos socioeconômicos e emissão de GEE.
Diversos estudos apontam que populações tradicionais do Cerrado utilizam o fogo
sem prejudicar a natureza, pois dela dependem. Para identificar práticas, técnicas,
valores e culturas do fogo, o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental,
Comunicação e Arte (GPEA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
membro da REAJA, realizou o mapeamento dos saberes populares associados ao
fogo nas comunidades rurais de São Jerônimo (Cuiabá/MT) e Água Fria (Chapada
dos Guimarães/MT), localizadas no entorno do Parque Nacional da Chapada dos
Guimarães (PNCG). A metodologia do Mapa Social foi escolhida para dar
visibilidade a estes saberes, em desuso pelas comunidades por temerem sanções
governamentais. Conhecer tais saberes é fator imprescindível para a
implementação de ações de Manejo Integrado do Fogo (MIF) no PNCG. Como
resultado, são apresentadas nesta dissertação de Mestrado em Educação as
relações entre as práticas cotidianas e os saberes tradicionais de uso do fogo com
os ciclos da natureza, como o fogo cria e fortalece vínculos comunitários e como
participa da conservação ambiental. Os diálogos presentes nas atividades do Mapa
Social permeados por assuntos relacionados ao fogo estimulam a dialogicidade,
revelam valores, crenças, ética e olhar político inerentes à educação ambiental
gpeana. Através da escuta sensível durante oficinas e reuniões coletivas de
mapeamento e entrevistas com anciãs e anciãos das comunidades são
identificadas as impressões dos participantes sobre a relação entre incêndios
florestais, a crise climática e seu Bem Viver. Os relatos são interpretados à luz da
Fenomenologia de Gaston Bachelard e revelam as dualidades imbricadas do fogo:
bom e ruim. A elaboração conjunta do Mapa Social dos saberes populares
associados ao fogo escrutina necessidades e problemas ambientais latentes. A luz
que emerge dos diálogos e das vivências coletivas reflete as realidades vividas
pelos participantes da pesquisa e deslinda possibilidades de políticas públicas que
podem ser aplicadas para além das fronteiras do PNCG. Esta Simbiose de Saberes
contribui para a diminuição dos incêndios florestais, fortalece as comunidades e
ajuda a descriminalizar o uso tradicional do fogo no Cerrado mato-grossense.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Mapa Social. Incêndios florestais. Crise
Climática. Bem Viver.
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