RESUMO
Entre os distúrbios de origem antrópica que ocorrem nas florestas tropicais, o fogo e seus impactos a
longo prazo ainda são pouco conhecidos, especialmente quando há interações com a extração seletiva
de madeira. Com o monitoramento de parcelas permanentes, é possível descrever a trajetória de
recuperação e entender os mecanismos de resiliência da floresta, após a ocorrência de incêndios. O
objetivo deste estudo foi responder à seguinte pergunta: como o fogo afeta a trajetória de recuperação
de uma floresta madura, submetida a extração seletiva de madeira, na Amazônia brasileira? Para abordar
essa questão, utilizou-se um conjunto de 60 parcelas de 0,25 ha (50 m x 50 m; 12 hectares de amostra)
instaladas na Floresta Nacional do Tapajós em 180 hectares de uma floresta madura de terra firme com
histórico de manejo florestal (1982), e fogo (1997), monitorada através de medições frequentes de
árvores com DAP ≥ 5 cm, de 1981 a 2012 (31 anos). Para determinar os efeitos dos distúrbios, a área
basal, as taxas de mortalidade, as taxas de recrutamento e a diversidade de espécies foram comparadas
através da Análise de Variância (ANOVA) de medidas repetidas e Modelos Lineares de Efeito Misto
(LMM). Os resultados evidenciam que, na Amazônia brasileira, a floresta ombrófila densa, no tempo
de 15 anos após o incêndio, é capaz de estabilizar suas taxas de mortalidade e a estrutura da floresta
permanece semelhante às suas condições originais, principalmente, porque a mortalidade se concentra
nas primeiras classes de diâmetro (DAP < 20 cm), embora ainda sejam registradas altas taxas de
recrutamento e a forte presença de espécies arbóreas pioneiras. Nas florestas manejadas afetadas pelo
fogo, a intensidade e frequência dos distúrbios anteriores são fatores determinantes na dinâmica da
vegetação arbórea e, portanto, a resiliência da floresta está diretamente associada às condições anteriores
de estrutura da floresta (área basal e presença de grandes árvores). A combinação de exploração de
impacto reduzido, redução da área basal de espécies não comerciais e pequenos incêndios, não causa
perdas na diversidade de espécies, embora o desbaste de alta intensidade de espécies não comerciais
altere a composição das espécies. Em síntese, florestas sem histórico de distúrbios frequentes são mais
resistentes e resilientes ao fogo.
Palavras-chave: Diversidade de espécies. Taxa de recrutamento. Taxa de mortalidade. Tratamento
silvicultural. Floresta tropical. ABSTRACT
Among the disturbances of anthropic origin that occur in tropical forests, fire and its long-term impacts
are still poorly known, especially when there are interactions with selective logging. With the monitoring
of permanent plots, it is possible to describe the recovery trajectory and better understand the resilience
mechanisms of the forest after the occurrence of fires. The objective of my thesis was to answer the
following question: how does fire affect the recovery trajectory of a mature forest subjected to selective
logging in the Brazilian Amazon? To tackle this question, it was used a set of 60 plots of 0.25 ha (50 m
x 50 m; 12 sample hectares) installed in the Tapajós National Forest on 180 hectares of a mature terra
firme forest with a history of forest management (1982) and fire (1997), monitored through frequent
measurements of trees with DBH ≥ 5 cm, from 1981 to 2012 (31 years). To determine the disturbance
effects, basal area, mortality rates, recruitment rates, and species diversity, were compared through
Repeated Measures Variance Analysis (ANOVA) and Linear Mixed Effect Models (MLM). The results
show that in the Brazilian Amazon, in the time of 15 years after the fire, Dense Ombrophilous Forest, is
able to stabilize its mortality rates and forest structure remains similar to its original conditions, mostly
due to mortality is concentrated among small trees (DBH < 20 cm), although there are still high
recruitment rates and the strong presence of pioneer tree species. In managed forests affected by fire,
logging intensity is a determining factor in the dynamics of tree vegetation, and therefore the resilience
of the forest is directly associated with previous conditions of forest structure (basal area and presence
of large trees). The combination of reduced impact logging, reduction of basal area of non-commercial
species, and small fires did not cause losses in species diversity, although heavy thinning alters the
species composition. In short, forests with no history of frequent disturbances are more fire resistant and
resilient.
Keywords: Species diversity. Recruitment rate. Mortality rate. Silvicultural treatment. Tropical forest
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