RESUMO Espécies exóticas invasoras (EEI) são aquelas que chegam, com ajuda humana, a um hábitat que não ocupavam anteriormente, estabelecem uma ou mais populações e se disseminam de forma autônoma a maiores distâncias. Invasões por plantas exóticas podem afetar os ecossistemas invadidos, causando, dentre demais impactos, uma modificação da composição e riqueza florística. Unidades de conservação vêm sendo invadidas por espécies exóticas, sendo necessário controlar estas espécies de forma a prevenir impactos causados por invasões biológicas. Uma das técnicas de manejo de plantas exóticas invasoras, o controle almeja restringir a abundância e a distribuição de EEI a limites pré-estabelecidos, de forma a reduzir sua competitividade e permitir às espécies nativas a sua recuperação. Efeitos duradouros da presença de EEI nos ambientes invadidos, ou legacy effects, podem dificultar a recolonização por espécies nativas após a retirada das EEI, sendo necessárias outras intervenções para restauração destas áreas. Técnicas de restauração fundamentadas nos processos naturais de sucessão ecológica podem acelerar a recolonização local por espécies nativas. Uma destas técnicas, a transposição de solo, consiste da retirada da camada superficial do solo de uma comunidade vegetal local, em estágio sucessional mais avançado, e aplicação deste material sobre a área a ser restaurada, visando a recolonização do solo por microorganismos e introdução de sementes e outros propágulos. Hedychium coronarium J. Koenig (Zingiberaceae) é uma espécie herbácea rizomatosa, originária do Himalaia, considerada invasora em diversos países. O presente estudo visa comparar a resposta da assembleia vegetal em uma área invadida por H. coronarium após a execução de diferentes medidas de manejo ambiental. A hipótese testada foi que ao associar a transposição de solo ao controle da EEI pelo uso de herbicida seriam observadas maiores riqueza e abundância de espécies comparativamente a áreas manejadas exclusivamente com herbicida, áreas nas quais foi feita somente a transposição de solo e áreas nas quais a espécie não foi manejada. O experimento, implementado na Floresta Nacional de Ibirama (Ibirama, SC, Brasil) foi delineado em 12 blocos casualizados, cada um composto por quatro parcelas de 1 m2, as quais foram aleatoriamente selecionadas para receber um dos tratamentos: “Solo” - Corte das rametas de H. coronarium e transposição de camada de 5 cm de solo de área em estágio avançado de regeneração; “Herb” – Corte das rametas de H. coronarium e aplicação foliar de herbicida à base de Glifosato a 3% sobre rebrotas de H. coronarium; “Solo+Herb” – Corte das rametas de H. coronarium, aplicação foliar de herbicida à base de Glifosato a 3% sobre rebrotas de H. coronarium e transposição de solo; “Controle” - sem intervenção. Antes da aplicação dos tratamentos, e nos onze meses seguintes, as parcelas foram avaliadas quanto ao número de rametas de H. coronarium, altura média das rametas (média de dez rametas selecionadas ao acaso), porcentagem de cobertura por H. coronarium e por outras espécies (nativas e exóticas), riqueza e abundância de espécies (todas exceto H. coronarium). Os dados coletados foram analisados por meio de LMM e GLMM para detectar diferenças entre tratamentos quanto aos parâmetros mensurados, sendo utilizada como variável resposta a diferença entre os valores finais e iniciais de cada parâmetro. Diferenças entre os tratamentos quanto à composição de espécies regenerantes foram avaliadas por Análises de Coordenadas Principais (PCoA). Tratamentos com controle químico (com e sem transposição de solo) tiveram resultados semelhantes em todos os parâmetros avaliados e na composição florística, predominantemente composta por ervas e arbustos. O tratamento que envolveu apenas o corte de rametas de H. coronarium e transposição de solo diferiu dos demais tratamentos em todos os parâmetros analisados: não houve efeito na redução de H. coronarium e o estabelecimento de espécies regenerantes foi inferior aos demais tratamentos, quanto à riqueza, abundância e cobertura. Quanto à composição florística nestas parcelas, houve predominância de espécies arbóreas. Não foi possível corroborar a hipótese de que a transposição de solo proporcionaria maior riqueza e abundância de espécies em parcelas tratadas com herbicida, dada a semelhança entre os resultados dos tratamentos que receberam herbicida. Como a transposição de solo em parcelas não manejadas com herbicida permitiu o estabelecimento de plântulas de espécies arbóreas, há indícios de que o sombreamento proporcionado por H. coronarium nestas parcelas possa ter influência sobre a composição da assembleia de plantas na área manejada. Em virtude da dormência de sementes observada em espécies arbóreas da Floresta Atlântica, é provável que ainda ocorra germinação de sementes nas parcelas manejadas com transposição de solo (com e sem herbicida). Neste cenário, seria interessante acompanhar o experimento por mais tempo, para verificar se a composição florística das parcelas do tratamento que recebeu solo e herbicida será mais influenciada, no futuro, pelos propágulos de espécies arbóreas recebidos. Os dados obtidos até o momento indicam que o manejo da área por meio de controle químico é suficiente para proporcionar aumento na riqueza e abundância de espécies, e a transposição de solo permite a colonização por espécies que podem acelerar o processo de restauração. Palavras-chave: 1. Controle químico, 2. Espécies exóticas invasoras, 3. Plantas exóticas invasoras, 4. Transposição de solo, 5. Unidades de conservação |