Midiateca

Variação sazonal, espacial e lunar do ictioplâncton e do microplástico nos diferentes habitats do estuário do Rio Goiana (Resex Acaú-Goiana PE/PB) - Tese de Doutorado na UFPE

Autores

André Ricardo de Araújo Lima

Ano de Publicação
2015
Categoria
PESQUISA AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE
Descrição

RESUMO

Estuários são considerados ambientes importantes por promover refúgio, alimentação, reprodução e crescimento, além de servir como possíveis habitats de berçário para muitas espécies de peixes. Estudos sobre os padrões de movimento da comunidade ictioplanctônica dentro do ecossistema estuarino são de grande importância para entender como as espécies utilizam os recursos disponíveis para completar os seus ciclos de vida através das variações temporais e espaciais das diferentes fases ontogenéticas. Entretanto, a complexidade hidrodinâmica dos estuários não só influencia os organismos vivos, mas também materiais inanimados, tais como os detritos plásticos, atuando em sua retenção ou transporte para outros ambientes. Os detritos plásticos, associados ao aumento da urbanização das bacias hidrográficas, se originam principalmente em terra devido ao descarte impróprio, acidental ou desastres naturais. Durante seu tempo na terra, no mar ou nos estuários, os plásticos se fragmentam em microplásticos (< 5 mm). Flutuações sazonais de larvas de peixes e detritos plásticos (< 5mm) e suas quantidades em relação ao seston (organismos vivos e partículas não-vivas) foram estudadas ao longo do gradiente de salinidade do estuário do Rio Goiana (Resex Acaú-Goiana PE/PB) (Entre Abril, 2012 até Março, 2013). Além disso, a influência lunar na distribuição de larvas de peixes, zooplâncton e detritos plásticos (< 5 mm <) em canais de maré do mesmo estuário foi estudada durante um ciclo lunar (Entre Abril e Maio, 2008). Os taxa mais abundantes no canal principal foram Rhinosardinia bahiensis e Harengula sp., seguidos por Trinectes maculatus. Estes contaram 78,7% da captura total. Larvas de espécies marinhas (n = 15) dominaram o sistema. A flutuação sazonal da cunha salina parece regular a distribuição das larvas de peixes e de microplásticos ao longo do sistema. A densidade total de microplásticos (26,1 itens 100 m-3) representou metade da densidade total de larvas (53,9 ind. 100 m-3) e foi comparável com a densidade de ovos de peixes (32,4 ind. 100 m-3). Plásticos moles, duros, filamentos e fragmentos tintas de barco foram encontrados nas amostras (n = 216). Suas origens são provavelmente a bacia de drenagem do rio, o mar e a pesca, incluindo a pesca de lagosta). Em algumas ocasiões, a densidade de microplásticos ultrapassou a de ictioplâncton. Durante o início da estação chuvosa, zooplâncton e larvas de peixes apresentaram densidades baixas no estuário superior. No estuário intermediário, a maior densidade de larvas de peixes coincidiu com as altas concentrações de zooplâncton. No final da estação chuvosa, o fluxo rio abaixo foi responsável pelo transporte do plâncton total e dos microplásticos para a região próxima à costa. A maior quantidade de microplásticos foi observada durante o final da estação chuvosa (14 itens 100m-3), quando o ambiente está sob a influência de maior vazão do rio, o que induz o escoamento dos fragmentos de plásticos para o estuário inferior. No início da estação seca, a densidade total do plâncton aumenta rio acima. No final da estação seca, o “bloom” de zooplâncton no estuário inferior resultaram em altas densidades de larvas (12,74 ind. 100m-3) e ovos de peixes (14,65 ind. 100m-3), indicando que peixes marinhos utilizam a porção inferior como áreas de desova durante o verão. Além disso, Cetengraulis edentulus, Anchovia clupeoides e R. bahiensis foram as larvas de peixes mais abundantes (56.6%) em canais de maré da porção inferior do estuário, independente da fase da lua. A lua cheia teve influência positiva na densidade de Gobionellus oceanicus, Cynoscion acoupa e Atherinella brasiliensis, e a lua nova em Ulaema lefroyi. As luas cheia e nova também influenciaram o número de zoé e megalopa de U. cordatus, e protozoé e larva de camarão Caridae, bem como o número de plásticos duros e moles de ambos os tamanhos < 5 mm e > 5 mm. Micro e macroplásticos contaminaram todos os 12 canais de maré estudados. A densidade de fragmentos plásticos é similar à do terceiro táxon mais abundante, R. bahiensis (4,8 ind 100m-3). C. edentulus e R. bahiensis mostraram forte correlação com a lua quarto crescente, quando há menos zooplâncton. A lua quarto crescente também teve uma influência positiva nas altas densidades de micro filamentos plásticos nos canais. Anchovia clupeoides, Diapterus rhombeus, U. lefroyi e microplásticos duros tiveram associação com diferentes fases da lua, ocorrendo quando copépoda calanoida, larva de Caridae e zoé de U. cordatus foram abundantes nos canais. Cynoscion acoupa, G. oceanicus e A. brasiliensis, tiveram forte associação com a lua cheia, quando protozoé de Caridae e megalopa de U. cordatus também estavam altamente disponíveis, bem como plásticos duros e moles > 5mm, e tintas de barco e plásticos moles < 5mm. As fases da lua influenciaram a assembléia faunal e a poluição por plástico, mudando suas composições entre diferentes estágios de marés dentro dos canais da porção inferior do estuário do Rio Goiana. Esses resultados reforçam a importância do canal principal e dos canais de maré para proteção e estratégias alimentares. Além disso, a assembleia de larvas de peixes do estuário do Rio  Goiana inclui muitas espécies que ocorrem no sistema como juvenis e adultos, confirmando o uso do estuário como berçário.

Palavras chave: Séston. Cunha salina. América do Sul. Zooplâncton. Larva de peixe. Microplásticos. Ciclo lunar. Estuário tropical.


ABSTRACT

Estuaries are considered important environments for promoting refuge, food, reproduction, growth and for being the nursery grounds of many fish species. Studies on the movement patterns of the ichthyoplankton in an estuarine ecosystem are of great importance for understand how the species utilize the available resources to complete their life cycles using the temporal and spatial variations of different ontogenetic phases. Although, the hydrodynamic complexity of estuaries not only influences the living organisms, but also inanimate material, such as plastics debris, acting in their retention or transportation to other environments. Plastics debris, associated to the increasing urbanization of watersheds, originate mainly on land due to improper disposal, accidental release or natural disasters. During their time at land, sea and estuaries, plastics fragment into microplastics (< 5 mm). Seasonal fluctuations of fish larvae and plastic debris (< 5mm) and their quantification relative to the seston (living organisms and non-living particles) were studied along the salinity gradient of the Goiana Estuary (Resex Acaú- Goiana PE/PB) (between April, 2012 and March, 2013). Moreover, the lunar influence on the distribution of fish larvae, zooplankton and plastic debris (> 5 mm <) in mangrove creeks of the same estuary was studied over a lunar cycle (between April and May, 2008). The most abundant taxa in the main channel were Rhinosardinia bahiensis and Harengula sp., followed by the achirid Trinectes maculatus. These accounted for 78.7% of total catch. Larvae of marine species (n = 15) dominated the system. Seasonal fluctuation of salt wedge seems to rule the larval fish and microplastics distribution along the system. Microplastics (26.1 items 100 m-3) represented half of the total fish larvae density (53.9 ind. 100 m-3) and was comparable to fish eggs density (34.2 ind. 100 m-3). Soft, hard plastics, threads and paint chip fragments were found in the samples (n = 216). Their origins are probably the drainage river basin, the sea and fisheries, including the lobster fleet. In some occasions, the density of microplastics surpassed that of Ichthyoplankton. During the early rainy season, zooplankton and fish larvae presented low densities in the upper estuary. In the middle estuary, the higher density of fish larvae coincided with high zooplankton concentrations. In the late rainy season, the downstream flow was responsible for the shoreward transport of total plankton and microplastics. The highest amount of microplastics (14 items 100m-3) was observed during the late rainy season, when the environment is under influence of the highest river flow, which induces the runoff of plastic fragments to the lower estuary. In the early dry season, the turbidity drops and the density of total plankton rises upstream. In the late dry season, the bloom of zooplankton in the lower estuary results in summer high densities of fish larvae (12.74 ind. 100m-3) and fish eggs (14.65 ind. 100m-3), indicating that marine fishes utilizes the lower portion as spawning grounds during the summer. In addition, Cetengraulis edentulus, Anchovia clupeoides and R. bahiensis were the most abundant fish larvae (56.6%) in mangrove creeks of the lower portion of the estuary, independent of moon phase. The full moon had positive influence on densities of Gobionellus oceanicus, Cynoscion acoupa and Atherinella brasiliensis, and the new moon on Ulaema lefroyi. The full and new moon also influenced the number of zoea and megalopa of U. cordatus, and protozoea and larvae of Caridae shrimp, as well as the number of hard and soft plastics, both < 5mm and > 5mm. Micro and macroplastics contaminated all twelve creeks studied. Their density is similar to the third most abundant taxa, R. bahiensis (4.8 ind. 100m-3). Cetengraulis edentulus and R. bahiensis showed a strong correlation with the last quarter moon, when there were less zooplankton in the creeks. Last quarter moon also had a positive influence on higher densities of micro-sized plastic threads. Anchovia clupeoides, Diapterus rhombeus, U. lefroyi and micro-sized hard plastics were associated to different moon phases, occurring when copepod calanoida, Caridae larvae and zoea of U. cordatus were abundant in the creeks. Cynoscion acoupa, G. oceanicus and A. brasiliensis, were strongly associated to full moon, when protozoea of Caridae and megalopa of U. cordatus were also highly available, as well as hard and soft plastics > 5mm, and paint chips and soft plastics < 5mm. The moon phases influenced the composition of the faunal assemblage, and plastic pollution by shifting them between different tidal stages into the mangrove creeks of the Goiana Estuary. These results reinforce the importance of the main channel and mangrove creeks for protection and feeding strategies. In addition, the larval fish assemblage of the Goiana Estuary includes many species that occurs in the system as juveniles and adults, confirming the use of the estuary as a nursery.

Key words: Seston. Salt wedge. South America. Zooplankton. Fish larvae. Microplastics. Lunar cycle. Tropical estuary.

Tipo de publicação
Trabalho acadêmico (TCCs, dissertações, teses e trabalhos científicos apresentados em congressos e cursos)
Local da publicação
Recife - PE
Nº da edição ou volume
Editora
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
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