RESUMO No Parque Nacional de Anavilhanas, situado no Baixo Rio Negro, estado do Amazonas-Brasil, desenvolve-se o turismo interativo com botos (Inia geoffrensis), um golfinho de rio, endêmico de águas continentais da América do Sul. Levando em conta os potenciais problemas relacionados ao modelo de turismo implementado, a ausência de normatizações para o turismo com cetáceos na Amazônia até o momento, e a escassez de informações sobre os impactos desta atividade, este estudo caracterizou o turismo com botos no Parque Nacional de Anavilhanas, analisou seus aspectos positivos e negativos e propôs medidas de ordenamento que contribuíram para a normatização do modelo de turismo implementado. O estudo utilizou ferramentas de diagnóstico, de planejamento e de gestão participativa junto aos atores locais, entrevistas junto aos visitantes e aos moradores de Novo Airão, fotoidentificação e monitoramento da frequência dos botos no empreendimento onde as interações com os cetáceos acontecem, mapeamento participativo junto a condutores de turismo e inventário populacional de cetáceos no Parque Nacional de Anavilhanas. Foram elaboradas e colocadas em prática normas e orientações quanto à estrutura mínima e à localização do empreendimento onde as interações com os botos acontecem, bem como ao modo como as interações dos visitantes com os animais devem ser desenvolvidas. Estas diretrizes reduziram significativamente os riscos de acidentes e aumentaram os benefícios que o turismo com os botos oferece. O estudo demonstrou que a maioria dos visitantes acredita que o turismo de interação com os botos auxilia na conservação da espécie por promover o aumento do conhecimento sobre os botos e auxiliar na sensibilização das pessoas para a proteção destes animais. Por outro lado, a maioria dos moradores considera que as interações com os botos são a principal atração turística de Novo Airão, que atraem visitantes, contribuem para a geração de renda local e auxiliam na conservação destes animais, ainda que alguns moradores acreditem que a atividade concentra seus benefícios junto à família proprietária do empreendimento. Foi possível identificar 13 botos habituados às interações turísticas, sendo que a frequência desses animais no empreendimento foi pouco influenciada pelo nível do rio e a oferta de alimentos impactou diferentemente os indivíduos, ocasionando maior ou menor alteração em seu comportamento natural de caça. O estudo demonstrou ainda que cetáceos não habituados às interações turísticas utilizam uma grande variedade de ambientes do Parque Nacional de Anavilhanas, mas apresentam maiores densidades em determinados lagos e canais do rio, ambientes que podem ser utilizados para o turismo embarcado para observação dos cetáceos, desde que a atividade respeite uma série de regras visando diminuir possíveis impactos negativos aos animais. O estudo oferece importantes informações para os proprietários do Flutuante dos Botos e para os gestores do Parque Nacional de Anavilhanas, bem como podem subsidiar a elaboração de futuros projetos e de políticas públicas voltadas para a gestão do uso público em outras áreas protegidas. Palavras-chave: Cetáceos. Fauna silvestre. Parque Nacional de Anavilhanas. Uso público. |