Este trabalho avalia a influência da distância e dos fatores climáticos e ambientais na diversidade beta dos pequenos mamíferos do Cerrado, utilizando a similaridade das espécies como indicador da substituição de espécies em escala local e regional. Além disso, a influência de processos locais e regionais é discutida para determinar sua importância na composição e distribuição dos pequenos mamíferos em localidades e ambientes específicos do bioma. O primeiro capítulo desta tese aborda a influência de mecanismos que afetam a composição e distribuição das espécies de pequenos mamíferos terrestres do Cerrado sob duas diferentes escalas. O estudo foi realizado em dez localidades de Cerrado, dentro das quais foram amostrados cinco tipos de hábitat. Testamos a hipótese de que a distância geográfica influencia a composição de espécies, diminuindo a similaridade entre as comunidades. A similaridade diminuiria com o aumento da distância tanto entre localidades, quanto entre hábitats iguais em diferentes localidades e ainda, entre comunidades com espécies de diferentes habilidades locomotoras. As análises mostram que a distância geográfica influencia na similaridade das espécies entre hábitats e entre localidades. Comparações de riqueza mostram diferenças entre localidades, mas não entre hábitats. Para verificar a influência de fatores climáticos e dos hábitats sobre a composição de espécies, realizamos uma análise de correspondência canônica que identificou cinco variáveis, 8 dentre elas, variáveis de posição, climáticas e os hábitats como significativamente importantes na composição das comunidades de pequenos mamíferos. A fauna local das comunidades de pequenos mamíferos do Cerrado depende, em parte, da localização das áreas em relação às fontes históricas e atuais de dispersão e colonização. As comunidades locais, provavelmente não atingem um equilíbrio ecológico local, pelo contrário, são influenciadas por seus contextos históricos e geográficos. A segunda parte da tese trata de uma aplicação prática do conhecimento acerca das distribuições geográficas dos pequenos mamíferos do Cerrado. A teoria de comunidades e os mecanismos de compreensão da composição e distribuição de espécies que embasaram a discussão na primeira parte da tese são direcionados para o segundo capítulo, mostrando que os processos biogeográficos, como a proximidade de biomas adjacentes, posição geográfica e áreas com altitudes elevadas, assim como os fatores climáticos que influenciam a composição das espécies de pequenos mamíferos podem ser utilizados como ferramenta para embasar decisões sobre criação de novas unidades de conservação. Ao detectarmos variáveis que contribuem para a ocorrência de espécies ou aumento da riqueza, ou até mesmo para a composição atual das comunidades, estamos nos munindo de ferramentas seguras para tomar decisões que contribuam para a manutenção, preservação e conservação das espécies e até de comunidades biológicas inteiras. Utilizei a modelagem de distribuição de espécies para prever áreas de ocorrência de espécies dos pequenos mamíferos e, dessa forma, avaliar a efetividade do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) em proteger a fauna de pequenos mamíferos do bioma Cerrado. Foram analisadas as 20 unidades de conservação de proteção integral do Cerrado a partir de critérios de insubstituibilidade e efetividade previamente definidos e uma análise de lacunas foi realizada para identificar áreas mais importantes e as menos eficientes para manter as espécies-alvo. A rede de unidades de conservação é insuficiente para proteger a diversidade de pequenos mamíferos do Cerrado, especialmente as espécies consideradas mais suscetíveis ao desaparecimento, como as ameaçadas, endêmicas e de distribuição restrita. Aspectos relativos às espécies foram abordados e as unidades de conservação mais eficientes para a manutenção destas espécies foram identificadas. As lacunas de conservação apontadas no estudo são áreas de alta adequabilidade para a ocorrência de grande número de espécies, mas que ainda não tem unidades de conservação de proteção integral federais capazes de proteger esta riqueza de espécies. As áreas mais ricas localizam-se no oeste da Bahia, centro-oeste e sudeste do Cerrado. Nestas regiões, a criação e/ou ampliação de unidades de conservação é uma medida necessária e urgente. |