Midiateca

Jardim Botânico 1808 2008 -

Autores

[Organizado por] Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Ano de Publicação
2008
Categoria
EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Descrição

Um passeio pelo Jardim Botânico pode ser muitos. A pessoa consigo mesma, abrigada das arestas e tensões do cotidiano; com amigos, com a família, sob o afeto das árvores. Pode ser uma caminhada para acordar o corpo sedentário, ver e ouvir crianças e passarinhos, nutrir-se da força majestosa da mata. Pode ser um tempo para emocionar-se, refletir, fora do ritmo e formalidades do meio urbano e das convenções profissionais e sociais. Para aprender, descobrir, observar, mostrar, embevecer-se, deixar-se envolver por um museu vivo, ser seu elo contemporâneo. Para sentir-se parte de uma história de 200 anos que diz tanto sobre o Brasil. Não é só refúgio, contemplação, cultura e conhecimento a dádiva do Jardim Botânico. Ele é um lugar, principalmente, de procurar respostas para nossos dilemas de hoje, por meio do despertar da sensibilidade para valores humanos, espirituais e ambientais e para prazeres e sensações profundos, não-consumistas e não-imediatistas. Nem sempre no nível do consciente ou das palavras, os sentidos captam uma educação sutil que fica plantada na alma como um jequitibá frondoso, cuja sombra e frutos aparecem, ao longo da vida, nas escolhas, no sentido do olhar, nas emoções individuais e coletivas, nas prioridades, na generosidade, no respeito às diferenças, na solidariedade, na negação da truculência, do egoísmo e do valetudo como leis de sobrevivência na sociedade. Este é também um jardim de mentes e, talvez, ao incluírem o Jardim Botânico entre suas 7 maravilhas, os cariocas estivessem de certa forma expressando a compreensão de que ele é um forte símbolo de algo que não querem destruir dentro de si mesmos, apesar das pressões, do medo, dos conflitos. Os 200 anos desse multi-jardim são inclusivos e plenos de diversidade biológica e humana. Creio que não devemos vê-los de maneira estanque, embora a linha temporal seja importante para entendermos sua progressiva adaptação aos desafios das diferentes épocas, sua construção institucional e social. Criado por d. João em 1808, como Jardim da Aclimação, para preservar as especiarias vindas das Índias Orientais, o foi também, ao lado dessa função utilitária, porque o então príncipe regente extasiou-se diante da natureza e quis protegê-la. Já estava aí presente o tema basilar recorrente da vida brasileira: como nos desenvolvermos sem destruir algo que é central em nossa identidade, ou seja, a privilegiada natureza presente no território onde nos constituímos como nação? Em nossos dias, com maior complexidade social, cultural e política, temos que lidar com esse imperativo de maturidade nacional, o ponto de inflexão que nos levará (ou não) ao crescimento com a qualidade ambiental que está posta como inalienável desde que, ao sabor da geopolítica de cinco séculos atrás, aqui começou uma história que herdamos e da qual somos os atuais construtores. O Jardim Botânico é um microcosmo das potencialidades virtuosas dessa história, um sinalizador de que um futuro melhor depende da integração entre desenvolvimento humano, espiritual, social e econômico, o que supõe bases culturais, educacionais, estrutura científica e tecnológica e uso inteligente dos recursos naturais. Desde sua criação, o maior objetivo do Jardim Botânico – uma autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente – é a pesquisa para a conservação da biodiversidade e preservação do meio ambiente. Hoje, com acervo de valor incalculável, desenvolve ações de natureza científica, educacional, ambiental, cultural e social. Tombado como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, definido pela Unesco como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, passou por grandes transformações no decorrer de dois séculos e afirmou-se como referência nacional e internacional em jardins botânicos. As diferentes administrações do passado, em conjunto com a participação consciente e ativa da sociedade civil do Rio de Janeiro, entregaram a esta gestão um acúmulo de realizações, de formas de interagir com a cidade. Nós estamos, portanto, agregando nossa contribuição por meio de uma política destinada a aprofundar essa interação e a expandir as atividades do Jardim Botânico de forma integrada e multidimensional. Programas e projetos de pesquisas científicas na Mata Atlântica, Zona Costeira, Conservação e Taxonomia integram a área científica. O projeto de informatização do Herbário tornou disponível na Internet seu acervo. A área de ensino consolidou-se na Escola Nacional de Botânica Tropical, instalada no Solar da Imperatriz, com a introdução dos cursos de mestrado e doutorado em Botânica Tropical, além dos cursos de extensão em gestão ambiental. Outro destaque é o acervo da Biblioteca Barbosa Rodrigues, uma das mais completas do País na área de Botânica. A pesquisa está presente ainda no Programa de Apoio Institucional de Desenvolvimento dos Jardins Botânicos Brasileiros e no Banco de DNA de Espécies da Flora Brasileira. Ainda em 2008, será implantado o Centro de Conservação da Flora, para ser referência nacional de dados sobre a flora brasileira, além de subsidiar o Ministério do Meio Ambiente na elaboração da Política Nacional de Biodiversidade e de acesso a recursos genéticos. Os visitantes ganharão, também, o Museu do Meio Ambiente. Interativo e sensorial, mostrará o meio ambiente como um processo dinâmico e retratará a relação do homem com a natureza. Na área social, são promovidos cursos de jardinagem e inclusão social para jovens oriundos de comunidades populares. Eles têm nas aléias, canteiros, recantos naturais e no Caminho da Mata Atlântica, uma fonte inesgotável de trabalho e aprendizado. E, nos últimos anos, o Jardim Botânico passou a desenvolver também atividades na área cultural com a inauguração do Espaço Tom Jobim – Cultura e Meio Ambiente. Como se vê, uma trajetória tão rica e tão cheia de possibilidades merece uma grande comemoração, ela mesma planejada de forma a refletir os valores que se deseja que o Jardim Botânico expresse. Para isso foi instalado, em setembro de 2007, o Conselho dos 200 anos do Jardim Botânico, grupo formado por autoridades, cientistas, empresários e artistas. Da junção de visões e abordagens, surgiu a programação agora aberta ao Rio de Janeiro, ao Brasil e a quem mais queira compartilhar esse momento que é memória, futuro, ação e encantamento. O mesmo encantamento que Einstein manifestou ao andar por essas trilhas em 1925 e que esperamos possa continuar a iluminar e inspirar os sonhos e vidas de crianças e adultos que por aqui passam. 

Senadora Marina Silva -  Ministra do Meio Ambiente - jan 2003 / maio 2008

Tipo de publicação
Livro
Local da publicação
Rio de Janeiro - RJ http://www.jbrj.gov.br/sites/all/themes/corporateclean/content/publicacoes/200anos.pdf
Nº da edição ou volume
Editora
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ
Link