Apresentação Atualmente, um dos maiores desafios que se
apresenta para a pesquisa agropecuária, bem como
para os agricultores e pecuaristas, é a eficiência na
produção de alimentos com baixo custo econômico
e ambiental. O uso racional e sustentável dos
recursos naturais aliado a preservação ambiental
é uma necessidade e uma demanda da sociedade.
A Embrapa Cerrados e seus parceiros atuam fortemente
nesse sentido, visando contribuir para a solução
desses desafios por meio de sua carteira de
projetos.
Nesse contexto, a prestação de serviços ecossistêmicos,
como a polinização, ganha uma dimensão
muito significativa. A importância dos
polinizadores para a agricultura e para os ambientes
naturais é evidente quando consideramos que
quase 90% de todas as espécies de angiospermas
dependem da polinização biótica. Também é conhecido
o fato de que cerca de 70% das culturas
agrícolas, com uso direto para o consumo humano
em todo o mundo, dependem do serviço
ecológico provido pelos polinizadores para a sua
produção. A importância dos insetos como prestadores
desses serviços é consensual e a poliniza-
ção se destaca pela sua relevância na produção de
alimentos e manutenção da alta diversidade das
plantas nativas. A polinização por mariposas tem
um papel extremamente importante, uma vez que
esses insetos são responsáveis pela reprodução sexuada
de muitas espécies no mundo e no bioma
Cerrado em particular.
Entre as mariposas, as espécies da família
Sphingidae, cuja quase totalidade das espécies realizam
polinização, são de especial interesse, pois,
além de visitarem um amplo espectro de plantas,
são capazes de realizar deslocamentos de longas
distâncias, garantindo o fluxo de pólen entre populações
que de outra forma estariam isoladas, além
de realizar a polinização de espécies de interesse
comercial.
Esta obra nasceu da necessidade de reunir
informações, a maioria inéditas, sobre este importante
grupo de insetos polinizadores. O livro
apresenta uma descrição dos principais caracteres
morfológicos externos dos adultos das espécies de
Sphingidae que ocorrem no Cerrado conhecidas
até o momento, bem como fotos de cada espécie
descrita, sua distribuição, plantas que polinizam e
sua atuação como pragas de culturas na fase de
lagarta. Discorre também, embora de maneira breve,
sobre a conservação dessas espécies. Entretanto,
não é um trabalho sobre taxonomia clássica de
Lepidoptera, uma vez que não descreve ou ilustra
caracteres da morfologia interna, nem da venação
das asas. Esta abordagem visa permitir a identifica-
ção das espécies a olho nu, inclusive por pessoas
não especialistas. Trata-se, portanto, de um guia de
campo para estudantes, ecólogos e outros profissionais
que utilizam este grupo como modelo para
seus estudos. Claudio Takao Karia Chefe-Geral da Embrapa Cerrados
INTRODUÇÃO O Cerrado ocupa cerca de 23% do território
nacional e constitui o segundo maior bioma brasileiro
em extensão. É um bioma heterogêneo, dentro
do qual são reconhecidos 11 tipos principais
de vegetação, sendo quatro classificados como
formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria,
Mata Seca e Cerradão), quatro na categoria de formações
savânicas (Cerrado stricto senso, Parque
de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e três campestres
(Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre).
Porém, considerando todos os subtipos de vegeta-
ção que podem ser encontrados neste complexo
bioma, podem ser reconhecidas 25 fitofisionomias
distintas que se alternam de diferentes formas (Ribeiro;
Walter, 2008).
Em razão da grande concentração de espécies
endêmicas e da perda acelerada de habitat, o Cerrado
foi considerado um dos 25 hotspots de biodiversidade
prioritários para conservação em todo
o planeta (Myers et al., 2000). Além da elevada diversidade
de vertebrados, também concentra uma
alta riqueza de lepidópteros, o que inclui muitas
espécies endêmicas (Camargo et al., 2012). Como
o Cerrado é uma das principais fronteiras agrícolas
do Brasil, a conversão de áreas nativas pela agricultura
e pela pecuária consta entre as principais causas
da perda da biodiversidade no bioma (Klink;
Machado, 2005).
A grande heterogeneidade ambiental possivelmente
responde pela alta riqueza e endemismos
de espécies do bioma. Outro fator determinante
para a riqueza do Cerrado é o fato de o bioma fazer
fronteira com a maioria dos grandes biomas da
América do Sul. Para vários grupos, a região central
do Cerrado constitui-se no limite sul para espécies
Amazônicas e limite norte para espécies da Mata
Atlântica. A diversidade da fauna de lepidópteros
no Cerrado está relacionada com a presença de
diversas fitofisionomias, as quais abrigam espécies
típicas tanto de ambientes florestais quanto de
ambientes savânicos e campestres, além de várias
espécies exclusivas do bioma. O Cerrado, especialmente
em suas áreas de contato com o ambiente
xérico da Caatinga, é extremamente desfavorável
para a maioria dos insetos na estação seca. Mariposas
são muito suscetíveis à dessecação e grupos
de espécies apresentam formas diferenciadas
de passar a fase de pupa. O local e a maneira de
abrigar o casulo são fatores que podem influenciar
a distribuição regional de lepidópteros. Nesse contexto,
por apresentarem condições climáticas mais
amenas, as formações florestais, como as Matas de
Galeria presentes no Cerrado, constituem uma fonte
permanente de alimento e abrigo, além de servirem
como uma importante via de dispersão para
várias espécies de lepidópteros (Camargo; Becker,
1999; Camargo, 2001; Amorim et al., 2009). Em conjunto,
tais características respondem pela elevada
biodiversidade regional de Lepidoptera no bioma
Cerrado (Camargo; Becker, 1999; Camargo, 2001).
Entre os diversos grupos de Lepidoptera encontrados
no Cerrado, as mariposas da família
Sphingidae merecem destaque por sua grande
importância ecológica e econômica. Muitos esfingídeos
apresentam estreitas relações com as
plantas das quais se alimentam na fase adulta, com
especializações mútuas (Nilsson et al., 1985). Dessa
forma, muitos esfingídeos são polinizadores exclusivos
de várias espécies nativas do Cerrado. Por outro
lado, as larvas (ou lagartas) de algumas espécies
podem, ocasionalmente, em altos níveis populacionais,
atuarem como importantes pragas agrícolas
(Steen, 2012; Xiong et al., 2015; Tanzubil, 2015). Embora
poucos estudos com levantamentos sistematizados
da fauna de Sphingidae tenham sido realizados,
destacando-se os de Amorim et al. (2009),
Mielke e Haxaire (2013) e Braga e Diniz (2015), a diversidade
de Sphingidae no bioma Cerrado é relativamente
bem conhecida (Corrêa, 2017). Além de
tais levantamentos, nos últimos 30 anos diversos
registros de ocorrência de espécies incrementaram
as informações sobre a riqueza e a distribuição dessa
família de mariposas no bioma. Tais informações
encontram-se disponíveis em diversas bases de dados:
Coleção Entomológica da Embrapa Cerrados;
Coleção Entomológica da Universidade de Brasília
(DZUP, 2017; FIOCRUZ, 2017; LEPBARCODING, 2017;
Kitching, 2018; SINBIOTA, 2017)
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