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Biodiversidade e mudanças climáticas no Brasil: levantamento e sistematização de referências - WWF Brasil - Relatório 18

Autores

SILVA, Priscila Lemes de Azevedo. B

Ano de Publicação
2018
Categoria
PESQUISA AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE
Descrição

INTRODUÇÃO

As atividades antrópicas, como a queima de combustíveis fósseis, as queimadas e o desmatamento de florestas, têm alterado o clima em sua variação natural. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (no inglês International Panel on Climate Change, ou IPCC), as temperaturas médias globais vêm aumentando desde a década de 70, e esse aquecimento deve continuar até o final do século. As projeções da mudança do clima incluem alterações nos padrões de vento, na precipitação e nas correntes oceânicas (Bernstein et al., 2007; Stocker et al., 2013). Por consequência, há também um aumento do nível dos oceanos e do crescimento e da formação de desertos. O aquecimento anormal das águas superficiais do oceano, combinado com as mudanças nos padrões de vento e nos regimes de chuva, provavelmente, tornarão os eventos climáticos extremos (ciclones, furacões e tufões) ainda mais destrutivos, como os observados na temporada de furacões no Oceano Atlântico, em 2017: foram sete; deles, pelo menos dois de categoria cinco – a mais elevada, cuja velocidade dos ventos é superior a 250 km/h. Outro exemplo notório desse fenômeno é o aumento da frequência das ondas de calor em regiões com temperatura tradicionalmente amena, como as vistas na Europa em agosto de 2017, período no qual as temperaturas passaram dos 40°C. Diante disso, a mudança do clima deve se tornar a maior ameaça, deste século, à biodiversidade (Brook et al., 2008) e muitos de seus impactos já podem ser observados nos sistemas biológicos (e.g. Pounds et al., 1999). É muito provável que a mudança do clima afetará o padrão de distribuição das espécies (Garcia et al., 2014), além dos padrões mundiais de distribuição dos bolsões de fome e doenças (Pecl et al., 2017). À medida que a fauna e a flora não conseguem acompanhar as novas temperaturas com adaptação ou aclimatação, ou se deslocar para locais com o clima adequado, a extinção poderá ser muito mais rápida, quando comparada à que ocorre durante os ciclos glaciais (Barnosky et al., 2011). A mudança do clima tem implicações profundas nos sistemas naturais e vários estudos têm predito seus possíveis efeitos em diferentes espécies e habitat em todo o mundo (e.g. Pacifici et al., 2015). As consequências relacionam-se, principalmente, à diminuição da aptidão da espécie, expressa em diferentes níveis de organização biológica, cujos efeitos variam entre indivíduos, populações e comunidades (Bellard et al., 2012). Tais ameaças são capazes de diminuir a diversidade genética das populações (e.g. Colevatti et al., 2011) devido às seleções microevolutivas, que, somadas às alterações de diferentes populações e espécies, podem afetar o funcionamento e a resiliência dos ecossistemas (Botkin et al., 2007). Além disso, há evidências de que alguns clados1 sejam mais sensíveis ao impacto humano do que outros (Purvis, 2008; Loyola et al., 2014), acenando para mudanças desproporcionais da história evolutiva da Terra (Thuiller et al., 2011). Com a mudança do clima em curso, as espécies deverão ser impactadas de diferentes maneiras, como no caso da mudança na distribuição geográfica (e.g. Zhang et al., 2017) e na abundância (e.g. Mair et al., 2014), além das alterações do ciclo de vida (Parmesan & Yohe 2003). O padrão geral prevê que muitas espécies serão ameaçadas de extinção e que seus habitat, possivelmente, vão encolher. Ademais, é esperado que as espécies se desloquem para latitudes e altitudes mais elevadas (Chen et al., 2009) ou, ainda, as espécies marinhas migrem para oceanos mais profundos (Dulvy et al., 2008). Contudo, sua resposta também dependerá de fatores como a fisiologia, o comportamento, a ecologia e a evolução dos organismos que determinam a capacidade de dispersão e de adaptação às novas condições climáticas (Bellard et al., 2012). Ou seja, as respostas são espécie-específicas. A perda e a fragmentação de habitat impõem obstáculos ao deslocamento das espécies para locais de clima mais adequado e a combinação de diferentes ameaças pode alterar a magnitude e o padrão espacial da perda da biodiversidade (Faleiro et al., 2013; Gouveia et al., 2016). Não há dúvidas sobre a necessidade de identificar as espécies mais suscetíveis e as principais respostas da biodiversidade aos impactos das alterações em curso. Nesse sentido, a conservação dos ecossistemas naturais terrestres, sejam os de água doce ou os marinhos, e o restabelecimento daqueles que estão degradados são importantes, pois desempenham um papel fundamental no ciclo global do carbono, na resiliência de ecossistemas e na adaptação à mudança do clima. A vulnerabilidade das espécies de plantas, animais e ecossistemas terrestres vem sendo globalmente documentada (Pacifici et al., 2015; Zhang et al., 2017), porém, os efeitos na biodiversidade de ambientes costeiros e marinhos ainda são negligenciados (Dulvy et al., 2008). Embora haja um crescente interesse acerca dos impactos da mudança do clima na biodiversidade (Root et al., 2003), os estudos a respeito da biodiversidade brasileira ainda são escassos (Vale et al., 2009). Ao considerar que o conhecimento dos efeitos da mudança do clima na biodiversidade e em serviços ecossistêmicos do Brasil pode fornecer subsídios à elaboração de estratégias de mitigação e adaptação, foi realizada a revisão da literatura sobre o assunto. Além de fornecer um panorama geral sobre o assunto, tal levantamento é importante na identificação de padrões e tendências, assim como no preenchimento de lacunas do conhecimento que necessitam de maior atenção da comunidade científica.

Tipo de publicação
Outros
Local da publicação
Brasília - DF https://www.wwf.org.br/?65562/O-que-sabemos-sobre-a-biodiversidade-e-as-mudanas-climticas-no-Brasil
Nº da edição ou volume
https://wwfbr.awsassets.panda.org/downloads/WWF_Levantamento_21maio18_nr09.pdf
Editora
WWF Brasil - World Wildlife Fund
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