UNIDADE I – NOÇÕES DE DESENHO AMOSTRAL
Site: | AVA ICMBio-MMA |
Curso: | Curso Básico de Anilhamento de Aves Silvestres | 2024 |
Livro: | UNIDADE I – NOÇÕES DE DESENHO AMOSTRAL |
Impresso por: | Usuário visitante |
Data: | sábado, 23 Nov 2024, 05:12 |
1. Começando a nossa conversa...
Olá Usuário visitante ,
Importância do desenho amostral nas pesquisas com aves
O desenho amostral é, sem dúvida, um dos mais importantes pontos de qualquer planejamento da pesquisa científica. O uso de um bom livro da área poderá auxiliar no correto delineamento da coleta dos dados (e.g. Bibby et al., 2000; Bibby; Jones; Marsden, 2000; Fowler; Cohen; Jarvis, 1998; Gotelli; Ellison, 2004; Sokal; Rohlf, 2012; Sutherland, 2006; Sutherland; Newton; Green, 2004; Underwood, 1997).
A seguir serão enfatizados alguns passos fundamentais para o delineamento de um bom desenho amostral.
2. Planejando o projeto de pesquisa
Começando pelo começo: os passos básicos
Todo pesquisador já ouviu, em algum momento, questionamentos do tipo “Qual é a sua pergunta?” ou “Qual é a sua questão científica de interesse?”. Responder adequadamente tais questões é o primeiro passo para se definir o seu desenho amostral.
Um bom desenho amostral poupa energia, recursos e, sobretudo, permite obter respostas consistentes às questões científicas investigadas. Portanto, antes de tudo, considere o seguinte:
Quais são suas questões científicas de interesse? Que tipos de dados seriam necessários para respondê-las?
Clique nos boxes abaixo
A pergunta adequada irá indicar os dados necesssário para respondê-la, e esses é que levarão ao método adequado.
A Pesquisa e a pergunta do estudo não deve inciar pela escolha prévia do método.
A captura e marcação, por serem métodos atrativos e de contato próximo com os organismo, muita vezes são escolhidos a priori, mas podem não ser os melhores metodos para determinadas perguntas.
Em geral, estudos envolvendo a amostragem de biodiversidade têm custo elevado, seja financeiro ou de tempo. Um bom desenho amostral pode evitar que se utilize uma estratégia de coleta de dados equivocada ou inconsistente que não atinja os objetivos.
Adote os métodos mais simples que satisfaçam seus objetivos. Os métodos mais complexos são geralmente mais exigentes em termos de tempo e de critérios estatísticos a satisfazer. É preferível obter dados confiáveis através de um método simples do que dados não confiáveis através de método complexo, mesmo que este último possa fornecer mais informações (Biddy; Jones; Marsden, 2000) .
Até aqui não detalhamos esses métodos, mas fique tranquilo, pois a próxima unidade irá abordá-los, assim como sua utilização para a captura das aves.
Um estudo piloto sempre é recomendável, e até mesmo o acesso a dados coletados por outros pesquisadores poderá auxiliar nas decisões ligadas as técnicas e ao esforço amostral.
Uma maneira de otimizar o esforço de amostragem, principalmente em estudos de ecologia, é utilizar a abordagem do desenho lógico amostral (Underwood, 1997). Esse desenho permite ao investigador maximizar a replicação das unidades amostrais e investigar questões científicas por meio de experimentação em ambientes naturais. Para mais detalhes dos problemas envolvendo experimentos pseudo-replicados e de análise de modelos hierárquicos recomenda-se a leitura de Hurlbert (1984) e Underwood (1997).
No caso de estudos envolvendo a captura de aves, o esforço amostral está relacionado às especificações do tamanho de rede, além do número de redes empregadas. A forma com que essas redes serão instaladas nos ambientes deve estar ligada aos objetivos do projeto de pesquisa. Assim, maior ou menor esforço dependerá muito das suas questões científicas, da dinâmica local de captura (que pode variar enormemente de local para local).
Em localidades onde as redes conseguem capturar muitas aves, é provável que as redes funcionem bem como método de amostragem. Por outro lado, em locais onde a taxa de captura é muito baixa, o esforço amostral pode ter que ser bem maior. Assim, novamente, o número de redes, a quantidade de horas que cada rede ficará aberta, o número de dias de amostragem, todos esses fatores são altamente variáveis de local para local. Detalhes de como escolher as áreas, cálculo de esforço amostral de redes serão vistos na Unidade 4.
Para estudos com aves existem várias técnicas de amostragem, as quais serão mais ou menos adequadas dependendo do grupo de aves a ser estudado, ambiente e dos dados necessários para responderem as perguntas. Duas referências boas para as diferentes técnicas de amostragem de aves são Sutherland et al. (2004) e Von Matter et al. (2010).
Na próxima unidade veremos várias técnicas de amostragem da avifauna com a utilização de diferentes métodos para a captura das aves.
Um bom anilhador de aves, antes de tudo, deve ser um bom identificador das espécies e ter uma boa noção da comunidade de aves da região a ser estudada.
Outra razão para adotar um método simples é que estes são mais fáceis de serem repetidos. Se você espera que outros repitam o seu trabalho no futuro, talvez no âmbito de um programa de monitoramento a longo prazo, não parta do principio de que eles terão o mesmo nível de formação ou farão o mesmo esforço que você. Diferentes equipes muitas vezes não têm tempo para repetir levantamentos complicados, por isso mantenha os objetivos e métodos tão simples quanto possível (Bibby et al., 2000).
3. Pesquisas e estudos com a técnica de anilhamento
Você sabia que as aves correspondem, provavelmente, ao grupo de animais que são mais capturados, manipulados e marcados (Roos, 2010)?
Em muitos países a captura e anilhamento de aves é considerado como um passatempo e é realizada por diversas pessoas amantes da natureza e em projetos de Ciência-cidadã. A captura seguida do anilhamento tem grande utilidade quando vinculado a um projeto científico definido e desenvolvido continuamente. Caso contrário, os dados tornam-se bastante dispersos, não contribuindo muito para o avanço sobre o conhecimento das aves, do monitoramento das espécies ou e mesmo da gestão ambiental.
Informações consistentes podem ser obtidas por meio da técnica de anilhamento, desde que sejam coletadas de forma planejada, armazenadas em banco de dados unificado e organizado, e disponibilizadas ou publicadas. As informações obtidas nesses casos respondem a várias questões relevantes não só para a biologia e ecologia, mas também para a conservação da biodiversidade.
Entre os principais exemplos de possíveis aplicações do uso da técnica de anilhamento, destacam-se:
Além de todas essas aplicações, o anilhamento também pode exercer importante papel educacional, sensibilizando a sociedade em relação à importância das aves e dos diferentes ecossistemas em que estão inseridas, direcionando a práticas conservacionistas.
Aprendemos nesta unidade sobre conceitos, importância e aplicações de desenhos amostrais em pesquisas com aves.
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BIBBY, C. et al. Bird census techniques. 2. ed. Academic Press, 2000.
BIBBY, C.; JONES, M.; MARSDEN, S. Expedition Field Techniques BIRD SURVEYS. Cambridge: BirdLife International, 2000. Disponível em: http://www.bio-nica.info/Biblioteca/Bibby2000.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
FOWLER, J.; COHEN, L.; JARVIS, P. Practical Statistics for Field Biology. 2. ed. West Sussex, UK: Wiley, 1998. Disponível em: https://www.wiley.com/en-us/Practical+Statistics+for+Field+Biology%2C+2nd+Edition-p-9780471982968. Acesso em: 26 abr. 2024.
GOTELLI, N.; ELLISON, A. M. A Primer of Ecological Statistics. USA: Sinauer Associates Inc., 2004.
HURLBERT, S. H. Pseudoreplication and the Design of Ecological Field Experiments. Ecological Monographs, v. 54, n. 2, p. 187–211, 1 jun. 1984. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.2307/1942661. Acesso em: 26 abr. 2024.
ROOS, A. L. Capturando Aves. In: Ornitologia e Conservação: Ciência Aplicada, Técnicas de Pesquisa e Levantamento. 1. ed. Rio de Janeiro: Technical Books Editora, 2010. p. 79–104. Disponível em: https://books.google.com.br/books/about/Ornitologia_e_Conserva%C3%A7%C3%A3o.html?id=943ai6ePVzoC&redir_esc=y. Acesso em: 22 abr. 2024.
SOKAL, R. R.; ROHLF, F. J. Biometry: the principles and practice of statistics in biological research. 4. ed. New York: W. H. Freeman and Co., 2012. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/44554870_Biometry_the_principles_and_practice_of_statistics_in_biological_research_Robert_R_Sokal_and_F_James_Rohlf. Acesso em: 22 abr. 2024.
SUTHERLAND, W. J. Ecological Census Techniques a handbook Second Edition Edited by. 2. ed. New York: Cambridge University Press, 2006. Disponível em: https://assets.cambridge.org/97805216/06363/frontmatter/9780521606363_frontmatter.pdf. Acesso em: 22 abr. 2024.
SUTHERLAND, W. J.; NEWTON, I.; GREEN, R. Bird Ecology and Conservation: A Handbook of Techniques. New York: Oxford University Press, 2004. Disponível em: https://academic.oup.com/book/12313. Acesso em: 22 abr. 2024.
UNDERWOOD, A. J. Experiments in ecology: their logical design and interpretation using analysis of variance. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
VON MATTER, S. et al. Ornitologia e Conservação: Ciência Aplicada, Técnicas de Pesquisa e Levantamento. 1. ed. Rio de Janeiro: Technical Books Editora, 2010. Disponível em: https://books.google.com.br/books/about/Ornitologia_e_Conserva%C3%A7%C3%A3o.html?id=943ai6ePVzoC&redir_esc=y. Acesso em: 22 abr. 2024.