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Plano de Ação para o Controle de Gatos em Fernando de Noronha

Autores

Equipe do ICMBio – Noronha responsável pela elaboração do Plano: • Thayná Jeremias Mello; • Felipe Cruz Mendonça; • Silmara Erthal; • Ricardo Araújo.

Ano de Publicação
2018
Categoria
PESQUISA AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE
Descrição

O arquipélago de Fernando de Noronha é composto por duas unidades de conservação federais, geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio): a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha - Rocas - São Pedro e São Paulo, com 154.409,03 hectares, e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, com 10.929,47 hectares. O arquipélago compreende 21 ilhas, sendo a ilha principal a maior delas, com uma área de 1700 ha. As espécies exóticas invasoras representam uma das principais ameaças à conservação da biodiversidade em Fernando de Noronha. Reconhecendo este problema, o ICMBio Noronha, junto com diversos parceiros, vem buscando planejar e implementar ações de controle destas espécies. Buscando subsidiar o planejamento de ações de controle de gatos, o ICMBio Noronha consultou especialistas acerca do impacto dos gatos sobre a fauna nativa de Fernando de Noronha. Os pareceres foram unânimes ao atestar a grande relevância do impacto dos gatos sobre as espécies nativas de Fernando de Noronha. A presença marcante de gatos causa grande impacto negativo às espécies nativas do Arquipélago de Fernando de Noronha, sendo os gatos uma das espécies invasoras mais prejudiciais à conservação da biodiversidade em ilhas ao redor do mundo. A população de gatos estimada para Fernando de Noronha é de aproximadamente 1300 gatos (Dias et al., 2017), o que representa uma das maiores densidades de gatos já reportadas para ambientes insulares em nível mundial. Destes, cerca de 1.000 possuem algum grau de supervisão e 300 não possuem qualquer supervisão, ou seja, não dependem dos humanos para sobreviver (gatos ferais). Dos gatos supervisionados, somente 13% ficam presos em casa, sendo que o restante tem acesso livre ao ambiente. Observa-se um grau de responsabilidade tênue dos proprietários dos gatos, restringindo-se, em sua maioria, somente ao fornecimento de água e comida aos animais (Dias et al., 2017). Atualmente, os gatos representam uma ameaça ao ecossistema natural do arquipélago, como fica evidente nas estimativas de abundância e uso das espécies nativas como recurso alimentar (Gaiotto & Bugoni, dados não publicados). As características naturais do arquipélago contribuem para a expansão populacional dos gatos através, por exemplo, da área verde na metade sul da ilha principal, onde pode ser encontrado grande número de ninhos de aves em árvores de acesso relativamente fácil. O impacto da predação dos gatos sobre espécies ameaçadas de extinção é preocupante. Os gatos são uma ameaça relevante especialmente por causarem danos diretos por meio da predação de indivíduos adultos ou filhotes de cinco espécies de aves listadas como ameaçadas de extinção, sendo duas aves terrestres endêmicas do Arquipélago e três espécies de aves marinhas: o rabo-dejunco- de-bico-laranja (Phaethon lepturus), o atobá-de-pés-vermelhos (Sula sula) e a noivinha (Gygis alba). Nesse grupo de espécies ameaçadas deve-se ressaltar que repetidos eventos de predação de rabo-de-junco-de-bico-laranja por gatos foram observados em diferentes ocasiões entre os anos de 2014 e 2016 por pesquisadores do Instituto Tríade, atingindo principalmente áreas de nidificação da espécie na área do Parque Nacional na ilha principal do Arquipélago. Esse impacto é um agravante significativo ao estado de conservação dessa espécie no Brasil quando se considera que Fernando de Noronha é o principal sítio de reprodução para esta espécie, assim como também para o atobá-de-pés-vermelhos e a noivinha no Atlântico Sul. A mabuia (Trachylepis atlantica), apesar de não constar na lista nacional oficinal da fauna ameaçada de extinção, foi incluída na lista de animais ameaçados do Estado de Pernambuco em 2017 (Resolução 01 publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco de 16/05/2017). Endêmica de Fernando de Noronha sofre com a predação por espécies exóticas, notadamente por gatos. Na Ilha principal, densidades mais elevadas são encontradas somente em pontos isolados, principalmente nas encostas rochosas e escarpadas da porção noroeste e em um ponto isolado, igualmente rochoso e escarpado, ao sul  próximo à baía do Sueste). As menores densidades do T. atlantica na ilha principal são observadas ao redor dos agrupamentos humanos. Nestes locais, as densidades não excedem 400 indivíduos/km2, significativamente menores que as densidades observadas nas ilhas secundárias do arquipélago, onde não há gatos. As mabuias das ilhas secundárias são maiores e mais pesadas, em média, que as da ilha principal. Moradores relatam que seus gatos comem até oito mabuias por dia. Os resultados disponíveis dos projetos de pesquisa que vem sendo desenvolvidos em Fernando de Noronha apontam que o impacto da fauna invasora sobre herpetofauna é suficiente para ocasionar declínios populacionais. As ameaças que os gatos causam a biodiversidade de Fernando de Noronha são evidentes, assim como a urgência por ações para combate-las. No entanto, a solução para esta problemática não é trivial. Cabe destacar a contraindicação do transporte de gatos de Fernando de Noronha para o continente, devido à identificação nos gatos de um conjunto atípico de cepas do protozoário Toxoplasma gondii aparentemente endêmicas do Arquipélago de Fernando de Noronha. Dentre esse conjunto endêmico de variantes,destaca-se uma variante pertencente a cepa tipo II do patógeno, comum apenas na Europa e América do Norte e praticamente ausente no território brasileiro. A variante encontrada em Fernando de Noronha é basicamente desconhecida, e sua origem evolutiva incerta, e os efeitos do estabelecimento efetivo desta variante da cepa na área continental do Brasil são imprevisíveis. Mesmo com os testes diagnósticos atuais, resultados falsos positivos poderiam ocorrer e estes gatos poderiam disseminar o Toxoplasma gondii no Brasil, introduzindo um patógeno exótico no continente americano. Estima-se que mais de 50% da população de gatos em Noronha estão infectados (Costa et al. 2012). Uma parcela significativa da população de gatos vive no interior do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. São animais ferais, que não recebem subsídio humano para sobreviver, e se mantém utilizando principalmente recursos do Parque, causando grande impacto à fauna nativa. O emprego de medidas para retirar estes gatos da área do Parque é urgente e prioritário, e é ação prevista no Plano de Manejo da UC. O problema dos gatos em Fernando de Noronha é assunto bastante complexo, que envolve vários atores com expertise bastante diversa, manejo integrado com outras espécies invasoras, ações de educação e comunicação além de questões jurídicas. Considerando a complexidade do problema e a necessidade de ação urgente, o ICMBio Noronha realizou uma Oficina de elaboração do Plano de Controle de Gatos em Fernando de Noronha, com a participação das diversas instâncias do ICMBio assim como das várias instituições parceiras envolvidas na questão, para o planejamento de ações integradas e coordenadas envolvendo todos estes atores. A Oficina foi realizada nos dias 16 e 17 de agosto de 2018 em Fernando de Noronha, com 27 participantes de 16 instituições, responsáveis por elaborar ações a serem implementadas, durante cinco anos, visando reduzir os impactos dos gatos sobre a fauna nativa e o risco de zoonoses em Fernando de Noronha. O Plano é um instrumento de gestão, construído de forma participativa e articulada, cuja implementação é de responsabilidade compartilhada entre as instituições participantes. O plano tem quatro objetivos específicos e 47 ações:

Tipo de publicação
Outros
Local da publicação
Nº da edição ou volume
Editora
Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha – Rocas – São Pedro e São Paulo Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
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